Outubro Rosa
O mês de Outubro é dedicado à conscientização sobre a importância da detecção precoce ao câncer de mama. É chamado de outubro rosa em menção ao cuidado permanente que as mulheres devem ter em relação à sua saúde e consequentemente à prevenção do câncer de mama – mas o câncer de mama também é assunto para os homens, pois uma parcela deles também poderá desenvolver a doença.
As Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil (2015) preconizam as seguintes ações de diagnóstico precoce:
• Estratégias de conscientização.
• Identificação de sinais e sintomas.
• Confirmação diagnóstica em um único serviço ou centro de referência.
O autoexame é um recurso de identificação, destes sinais e sintomas, que depende de informação e serve para todos (homens e mulheres). Devemos nos atentar para as alterações na coloração, textura ou nodulações na mama, sendo que diante de uma alteração suspeita, estas devem ser avaliadas pelo médico (que procederá o exame clínico das mamas e, se necessário, a solicitação de exames indicados para cada caso ou idade). De acordo com o Ministério da Saúde, devemos dar atenção aos principais sinais e sintomas, que incluem:
- Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos,
- Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual,
- Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade,
- Descarga papilar sanguinolenta unilateral,
- Lesão eczematosa da pele que não responde a tratamentos tópicos,
- Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral,
- Presença de linfadenopatia axilar,
- Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja,
- Retração na pele da mama,
- Mudança no formato do mamilo.
O autoexame das mamas surgiu como uma das estratégias para diminuir o diagnóstico de tumores de mama em fase avançada. No entanto, no Brasil a detecção precoce ainda pode estar dificultada por alguns fatores como a acessibilidade aos serviços de saúde, capacitação dos profissionais da saúde e rastreamento por meio de mamografias de rotina (a partir dos 50 anos). Segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (INCA) a mamografia é o único exame cuja aplicação em programas de rastreamento apresenta eficácia comprovada na redução da mortalidade do câncer de mama.
O acesso à informação de qualidade, diminuição dos tabus e fantasias que incrementam o medo do diagnóstico e serviços de saúde capacitados e disponíveis são fundamentais para que as mulheres não se sintam paralisadas diante da busca pela detecção da doença o mais precocemente possível.
O ponto de vista emocional, a ressignificação sobre o câncer de mama com base em informações corretas; por parte das mulheres saudáveis, pode aumentar o índice de detecção da doença, o que pode evitar muitas mortes, além de reduzir o gasto de verbas públicas com tratamentos para diagnósticos de doenças avançadas. Esta mudança de atitude possibilita que a detecção precoce não seja vista mais como ameaça, mas como o melhor caminho para a saúde (PORTO, 2018).
É importante que a mulher se aproprie, com autonomia e confiança, do compromisso de cuidar da saúde de suas mamas, assim como, exija a conduta correta por parte dos profissionais de saúde no que tange a psicoeducação, o acesso ao serviço de saúde e a priorização de medidas de detecção precoce.
Aspectos emocionais do diagnóstico
A partir do momento em que a mulher descobre que tem um nódulo na mama, dá-se início a um processo interno de dúvidas e incertezas (MALUF, MORI, BARROS, 2005). Algumas mulheres desistem ou demoram muito a buscar ajuda nesta fase inicial, não procedendo exames e investigações com medo do resultado diagnóstico.
Diante de um diagnóstico positivo para o câncer de mama, a paciente certamente viverá o impacto da notícia e um período inicial de choque, oscilando entre a negação e a aceitação de que porta uma doença. O câncer ainda traz temor e ameaças à integridade física e emocional para uma parcela considerável da população.
É muito importante que possamos acolher as mulheres que estão vivendo as expectativas que envolvem aguardar os resultados de seus exames, assim como, dar suporte específico a quem recebe um diagnóstico oncológico.
A mulher, ao perceber-se como possível portadora de uma doença que está associada socialmente à dor, sofrimento intenso e desfecho fatal (PORTO, 2018), pode sentir-se desamparada e necessitar de apoio e referencial para reconstruir seus conceitos sobre a doença e os tratamentos disponíveis.
A oncologia é a especialidade médica que trata especificamente das doenças oncológicas, ou seja, do câncer ou ainda, muito mais acertadamente; de pessoas que estejam com câncer. Neste sentido, a especialidade apresenta recursos cada vez mais desenvolvidos para a implementação de medidas preventivas, diagnósticos precoces e tratamentos avançados, eficazes, minuciosos (PORTO, 2018; BARRETO, 2005), com melhores chances de serem realizados de maneira personalizada.
As intervenções psicológicas, com base nas especialidades da Psicologia clínica, hospitalar e da saúde, especificamente apoiada nos estudos da Psico-Oncologia (CARVALHO, 2002), podem colaborar sobremaneira ao acolhimento, respaldo e tratamento de pacientes com câncer de mama, pois visa cuidados, promoção da saúde e redução do sofrimento psíquico –ampliando francamente suas percepções sobre o universo saúde/doença e fortalecendo seus recursos de enfrentamento.
Estes são elementos necessários à paciente com câncer de mama que se vê tomada pela ansiedade do diagnóstico, bem como impactada intensamente pelas exigências de alguns dos tratamentos – incluindo alopecia (queda dos cabelos decorrente da quimioterapia), marcação e sensibilidade local (decorrente da radioterapia), alteração da rotina, mudanças na autoimagem, efeitos secundários dos tratamentos, necessidade de seguir procedimentos e/ou submeter-se à cirurgias.
O câncer de mama afeta uma parte do corpo que está fortemente associado à identidade feminina, ou seja, ás concepções de sensualidade/sexualidade, fertilidade e maternidade. Algumas mulheres temem expor tal questão por sentirem-se julgadas. No entanto, é perfeitamente compreensível que estejam atravessando um momento de vulnerabilidade, indecisão e medo diante do desconhecido ou do temido da doença. Assim, com necessidades aumentadas de compreensão e afeto.
Enfrentar um câncer de mama extrapola a própria doença, vai além. De maneira muito clara, Silva (2008, p.236) descreve perfeitamente o teor de tal vivência, afirmando que as mulheres poderão estar às vias de “um sofrimento que comporta representações e significados atribuídos à doença ao longo da história e da cultura e adentra as dimensões das propriedades do ser feminino, interferindo nas relações interpessoais, principalmente nas mais íntimas e básicas da mulher. Considerar estes aspectos nas propostas de atenção à mulher com câncer de mama é mais que necessário: é indispensável”.
PARA SABER MAIS:
- Diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil/ Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva – Rio de Janeiro: INCA, 2015.
- http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/acoes_programas/site/home/nobrasil/programa_controle_cancer_mama/deteccao_precoce
- PORTO, G.P.G. Crenças e percepções das mulheres saudáveis sobre câncer de mama: uma revisão sistemática da literatura. Dissertação de mestrado em Psicologia Clínica: PUC-SÃO PAULO, 2018.
- SILVA, L. C. CÂNCER DE MAMA E SOFRIMENTO PSICOLÓGICO: ASPECTOS RELACIONADOS AO FEMININO. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 2, p. 239-237, abr../jun. 2008
Autor: Dra Giovana Kreuz – CRP 08/07196