Descobri que meu filho está roubando. E agora?

23-06-17-01

 

Como corrigir esta conduta? Que sanções aplicar?

Notar que seu filho abriu sua carteira e pegou dinheiro sem a sua permissão é uma das experiências mais desagradáveis que os pais podem viver. Como uma criança inocente, que brinca e ri,é capaz de fazer uma coisa dessas? A tentação de recorrer ao castigo é fulminante, além de ser compreensível, sobretudo quando se teme que, se o filho não for corrigido a tempo, pode sentir o peso menos carinhoso da justiça quando ele for adulto.

Alguns pais se frustram, pensando onde teriam fracassado. Outros se culpam, pensando que os filhos lhes enganam porque não se sentem queridos ou não têm a confiança necessária para expor suas necessidades aos pais. E não é raro que a situação gere discussão entre pais e mães, que tentam identificar o “culpado” do “mau exemplo”.

O primeiro passo é manter a calma

O fato de uma criança ou um adolescente roubar seus pais é algo que pode acontecer por diversos motivos durante o desenvolvimento evolutivo. A criança está evoluindo no plano moral e passa por etapas diferentes, em que aprimora a sua capacidade de raciocínio e de responder por suas condutas. Não se pode criminalizar uma criança de quatro anos que pegue algo que não lhe pertença. Também não se pode compará-la a um adolescente que rouba seus pais por rebeldia.

A psicologia evolutiva demonstra que, até os seis anos mais ou menos, a criança ainda não tem uma consciência muito clara sobre a moral. Mas isso também depende de cada criança, de seu caráter e sua maturidade. Nesta etapa, os pequenos imitam comportamentos, buscando a adaptação com o ambiente e copiando os modos dos outros.

A partir dos sete anos, geralmente há um desenvolvimento cognitivo suficiente que permite uma maior consciência dos próprios atos e do valor e implicações morais dos gestos e atitudes.

Não condenar a criança

Depois de compreender esta escala evolutiva da educação moral, é importante nunca qualificar moralmente a criança, principalmente quando ela tem pouca idade. Nunca se deve chamar um menino de “ladrão”, mas, sim, estimulá-lo a melhorar seu comportamento, para que seja uma pessoa melhor.

O mais importante, sempre, é a educação preventiva. Ou seja: é preciso educar nos valores do respeito e da sinceridade para que a criança tenha as motivações internas necessárias para evitar esse tipo de comportamento e, sobretudo, para se sentir mais motivada a distinguir o bom comportamento dos estilos de vida negativos.

Educar na autonomia moral

Como uma criança aprende os valores morais? Em princípio, por imitação. Depois, de acordo com a inteligência que vai desenvolvendo e, graças à interação com os diversos contextos sociais (escola, família e amigos), a criança vai chegando, pouco a pouco, à verdadeira autonomia moral e à capacidade de juízo pessoal.

Portanto, a chave principal para educar nos valores está, em primeiro lugar, na família: os valores devem ser vividos em casa, antes de serem verbalizados em uma explicação para as crianças. Elas não têm falsidade: se virem que seus pais têm uma relação ambígua com a honestidade em relação ao dinheiro, o filho imitará a conduta que vê, ao invés de interiorizar a conversa que recebe.

Em segundo lugar, a escola deve reforçar esses valores. Na adolescência, a crise acontece quando entra um “terceiro convidado” não esperado no menu da educação, que é o grupo de amigos. O impacto do grupo sobre os próprios comportamentos também é determinante para o futuro do adolescente.

Portanto, o castigo deve ser proporcional à sua capacidade de autonomia moral. É preciso tratar um adolescente já como um pré-adulto: convém explicar-lhe, de maneira contundente, as implicações e consequências do ato de roubar ou furtar, inclusive no âmbito legal. Para uma criança, a explicação deve ser adaptada ao seu nível de compreensão, explicando-lhe que isso é ruim e não se faz.

Em todos os casos, é muito importante que os castigos sejam educativos. O primeiro passo será sempre devolver o que foi roubado. Mas não é o suficiente: há que se pensar em pequenas sanções que podem ser aplicadas em casa para que as crianças e adolescentes entendam que todo ato tem consequências.  Por exemplo, se a criança roubou uma quantidade de dinheiro, além de devolver, terá que fazer de tudo para conseguir o dinheiro roubado, a fim de que ela entenda o prejuízo que este tipo de ação provoca nas pessoas.

O objetivo da educação é ajudar os filhos a ser maduros, felizes, seguros de si e a ter respeito para com os outros, que é a base do bom respeito para consigo mesmo. Uma boa educação buscará sempre estimular comportamentos que possam ser imitados e admirados por todos os educadores e pessoas de bom valor.

O que os adolescentes, que já têm um nível de inteligência completamente desenvolvido, menos precisam são grandes sermões, mas a certeza da proximidade dos pais e a constante confirmação do afeto dele para com os filhos.

Quando o roubo esconde outros problemas

Quando tudo o que abordamos for suficiente e a criança ou adolescente continua roubando, convém entrar em contato com algum psicólogo ou um especialista em educação e psicologia evolutiva, que vai analisar com mais profundidade as causas e poderá intervir de maneira eficaz.

Normalmente, por trás de comportamentos compulsivos de roubo ou hábitos rotineiros de roubo há a necessidade de preencher vazios afetivos, baixa autoestima, necessidade de possuir o que os outros possuem, problemas de insegurança, comportamentos antissociais ou dificuldades de adaptação social.

As mentiras, as tendências ao roubo e as atitudes de rebeldia nos adolescentes costumam ser manifestações da necessidade que eles têm de encontrar o próprio espaço e de autorrealização. Eles precisam de atenção e compreensão por parte dos educadores e pais, sabendo combinar a exigência e o diálogo na difícil arte de educar.

Diante das situações de roubo ou mentiras, é importante que os pais e educadores tenham a capacidade de dialogar para perguntar aos filhos o motivo de tais ações. Um diálogo construtivo é indispensável para estimular os filhos a adotarem valores e condutas corretas, sem se limitar ao medo das sanções e condicionamentos externos.

Fonte:(https://pt.aleteia.org/2017/05/25/descobri-que-meu-filho-esta-roubando-e-agora/)

SUICÍDIO: ENQUANTO SE IGNORA, MAIS FAMÍLIAS SOFREM

13-06-17

Falar sobre suicídio é tabu para a sociedade. Para preservar vítima e as famílias e até para não “incentivar” a prática, pouco se discute o assunto, que é um problema de saúde e que, por isso, exige atenção, prevenção e tratamento. “Precisamos falar sobre suicídio para a população para fazermos com que a população entenda que existe tratamento para suicídio, e que é possível identificar uma pessoa com tendência a cometer o ato e encaminhá-la para um atendimento médico e psicológico”, afirma o médico psiquiatra Felipe Pinheiro de Figueiredo.

O especialista explica que existe um sentimento na pessoa que está com intenção suicida, que é a ambivalência. “É um sentimento de querer ir e ao mesmo tempo não querer ir. Se a pessoa está com vontade de se matar, mas ainda não o fez, é porque também tem vontade de viver. E é nisso que temos que apoiar”.

A psiquiatria trata o suicídio como um sintoma, que pode estar relacionado com outras patologias mentais, como esquizofrenia, depressão, transtorno afetivo bipolar, ou transtorno desafiador de posição. “Pode ser um sintoma de vários transtornos relacionados aos comportamentos psiquiátricos e até não psiquiátricos. Quem tem problema de tireoide muito grave pode também ter vontade de se matar. Até condições médicas podem levar ao evento do suicídio. Problemas médicos gerais”, salienta. Dr. Felipe destaca que os pacientes com tendência a cometer suicídio dão Indícios antes da primeira tentativa e é possível familiares captá-los: “por exemplo, uma pessoa que está muito para baixo, isolando-se, com comportamento impulsivo, de fazer coisas sem pensar. Quando, por exemplo, a pessoa fala coisas sem muito nexo”, diz, lembrando que 80% a 90% dos indivíduos que tentam suicídio têm alguma doença mental.

Uma vez detectada a tendência, o ideal, segundo o médico, é o acompanhamento permanente do paciente, como em uma doença crônica, com uma visita mensal ao médico, pelo menos nos meses seguintes ao acontecimento. “O médico vai avaliar se precisa de tratamento medicamentoso, se precisa de tratamento com psicoterapia, se precisa de um tratamento familiar, se precisa de um apoio, por exemplo, de uma enfermeira que fique em casa”, explica.

Cuidados com crianças e adolescentes

O psiquiatra Felipe Pinheiro de Figueiredo chama atenção para os casos de tentativa de suicídio em crianças e adolescentes. O médico diz que as ocorrências vêm aumentando e preocupam os profissionais porque, muitas vezes, a criança não tem, sequer, noção do que exatamente é a morte, de que um suicídio não tem volta. “A criança menor não sabe exatamente o que é a morte, mas ela, às vezes, quando está com um processo de depressão, por exemplo, pode querer acabar com aquilo e fazer alguma coisa contra ela mesma. Isso pode ser muito perigoso, porque ela não sabe muito bem que a morte é para sempre. E ela pode ainda fazer isso como uma brincadeira”, diz. “O adolescente também. É característica da adolescência. É normal os adolescentes serem mais impulsivos. E, por conta dessa impulsividade, eles, às vezes, numa situação banal que cause algum sofrimento, como um término de namoro, um desentendimento com os pais, um fracasso escolar, eles tentam o suicídio”, alerta.

Profissionais de saúde no grupo de risco (com informações do CFM)

O alto índice de suicídio entre médicos e estudantes de Medicina tem sido uma preocupação das entidades médicas de todo o mundo. A mé- dica psiquiatra da USP Alexandrina Meleiro, que estuda o fenômeno, cita que estudos internacionais indicam que os médicos se suicidam cinco vezes mais que a população geral. Para ela, entre os principais motivos para a alta taxa de suicídio dos profissionais médicos, estão o acesso a meios mais eficazes de letalidade, o isolamento social, a situação conjugal insatisfatória e a precária situação empregatícia.

Dentro do segmento, a médica destaca que os estudos sugerem que os anestesistas e os psiquiatras são os mais vulneráveis quando o assunto é suicídio. Entre os alunos de Medicina, o grupo de alto risco se concentra naqueles que demonstram melhor performance escolar, são mais exigentes, têm pouca tolerância a falhas, sentem mais culpa pelo que não sabem, ficam paralisados pelo medo de errar, dentre outras características.

Mais de uma morte por minuto

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano em todo o mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, os números também impressionam: segundo o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, foram registrados 11.821 suicídios em 2012, o que representa, em média, 32 mortes por dia.

O Brasil é o quarto país latino-americano com o maior crescimento no número de suicídios entre 2000 e 2012, segundo relatório divulgado na última semana pela OMS. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de 17,8% entre mulheres e 8,2% entre os homens. Chama a atenção o fato de o número de mulheres que tiraram a própria vida ter crescido mais (17, 8%) do que o número de homens (8,2%) no período de 12 anos. A mortalidade de pessoas com idade entre 70 anos ou mais é maior, de acordo com a pesquisa.

DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES : Paciente com esquizofrenia altera pensamentos reais e fantasia

05-06-17

Um dos transtornos psiquiátricos mais graves, que atinge cerca de 1% da população e que, se não tratado, pode incapacitar a pessoa, é a esquizofrenia, uma doença crônica, caracterizada por uma alteração nos pensamentos, com delírios e alucinações. O conceito popular (e preconceituoso) de loucura é baseado na sintomatologia do paciente esquizofrênico.

“A pessoa começa a acreditar em coisas que não estão acontecendo. Por exemplo, achar que está sendo perseguido, que há pessoas o observando. Também podem acontecer alterações da percepção, por exemplo, ouvir vozes que ninguém mais escuta, ver vultos que ninguém está vendo. Pode acontecer também uma alteração do comportamento: a pessoa pode ficar mais agressiva, mais agitada. Ela pode ficar mais isolada, mais retraída, então ela muda o jeito que ela se relaciona e a maneira como, às vezes, percebe o mundo. O contato com a realidade é prejudicado”, explica a médica psiquiatra Giovana Garcia. Incurável e com causa ainda desconhecida, a esquizofrenia é tratável e, em cerca de dois terços dos casos, o uso contínuo de medicamentos é capaz de evitar crises agudas da doença. “Uma das hipóteses mais fortes é da alteração da dopamina e do glutamato, que são neurotransmissores do cérebro, mas são ainda hipóteses que precisam de comprovação científica mais clara.

E também  existem alguns estudos mostrando que o cérebro do esquizofrênico funciona de uma maneira diferente. Áreas que eram para ser mais ativadas são menos ativadas, o que significa que também existe um componente de imagem”, diz, citando que uma das relações já comprovadas pelas pesquisas é que o uso de drogas, principalmente essa droga, aumenta muito a chance de uma pessoa desenvolver esquizofrenia, porque a maconha atua em regiões cerebrais envolvidas na esquizofrenia. Assim como os demais transtornos psiquiátricos, o diagnóstico da esquizofrenia é clínico, através do relato do paciente e de familiares e da observação do médico. “Nossa primeira ação, ao receber um paciente após um primeiro surto é excluir o uso de substâncias que possam ter esse efeito colateral ou uma doença orgânica, como tumor cerebral. Para isso, até pode-se pedir um exame de imagem, para descartar essa hipótese. Mas, para diagnosticar a esquizofrenia, não existe outro método que não seja uma consulta com o especialista”, afirma Drª. Giovana.

A médica relata que o período típico de manifestação da doença é na juventude, no final da adolescência e início da vida adulta. “É uma fase muito transmutativa para as pessoas. E é por isso que a esquizofrenia fica tão incapacitante porque se a pessoa não consegue tratamento, ou se a doença é muito grave a ponto de o paciente não responder de uma maneira boa aos medicamentos, ela não estuda, ela não casa, ela não trabalha”, diz.

No tratamento da doença, ela destaca a necessidade de se aliar a abordagem medicamentosa com o uso de antipsicóticos à abordagem psicossocial. “O paciente precisa participar de grupos e haver uma psicoterapia para tentar ajudá-lo a entender a doença. Grupo de família, porque os pais e a família precisam entender. Às vezes, o paciente diz que está escutando uma morto falando com ele. O familiar não entende que aquilo não é inventado. O cérebro produz a voz mesmo! Assim, quanto mais está orientada mais pode ajudar o paciente”, ilustra.

Em alguns casos de maior risco, explica a psiquiatra, o internamento do paciente é necessário. “Internamos se o paciente está agressivo com ele mesmo ou com pessoas próximas; se ele tem um risco de suicídio ou homicídio; se ele não está conseguindo se cuidar sozinho (por exemplo, não consegue tomar banho) ou se alimentar. Se ele não consegue, nem a família, garantir o uso da medicação, às vezes precisamos interná- -lo para fazê-lo tomar o remédio. Um outro caso em que costumamos também hospitalizar é quando, às vezes, o quadro nem é tão grave, mas não existe suporte, não há quem responda pela pessoa”, diz. “Mas o ideal é que a internação pode ser breve. Não pode ser uma internação prolongada. É preciso controlar um pouco os sintomas para que o paciente consiga voltar para casa”, acrescenta.

Família tem que estar preparada e bem informada

A família do paciente tem papel fundamental no tratamento da esquizofrenia. E o primeiro passo é compreender a doença. “Porque quando os familiares não entendem, muitas vezes ficam argumentando e discutindo com o paciente. Mas quando o paciente, está com esse pensamento, com essas sensações, não adianta argumentar; é preciso tratar. Não adianta dizer que não há ninguém que o esteja perseguindo, que não está acontecendo nada. Orientar a família a reconhecer que, quando começa a aparecer o sintoma, o melhor é procurar ajuda a garantir a tomada da medicação é o que mais ajuda”, explica a Drª. Giovana Garcia.

“Quando o paciente está apresentando o sintoma, é preciso tentar entender o que está acontecendo e o que o paciente está sentindo e tentar já encaminhá-lo para um atendimento. Não precisa ficar tentando argumentar com o paciente porque ele não vai aceitar a argumentação”, reforça a médica, instruindo que, ao ouvir queixas de um esquizofrênico, o familiar pode perguntar o que ele está escutando, quem o está perseguindo, mostrar estar compreendendo para que ele se sinta confiante. “Isso aumenta a chance de você conseguir levá-lo para um tratamento”, diz.

Para os pacientes com comprometimento maior, a médica orienta a família a dar a eles o maior grau de independência possível, dentro dos limites de cada caso. “Que possa, por exemplo, aprender a lidar sozinho com dinheiro, a cuidar das coisas dele, ajudando em casa, participando de grupos como igreja, exercício físico, grupos de terapia. Por mais que, às vezes, o indivíduo não consiga trabalhar, casar e ter uma vida ativa, que ele possa ser, dentro das atribuições da vida dele, maximamente independente”, diz.

A médica finaliza dizendo que a doença atinge igualmente homens e mulheres e que pode ser causada por alterações desde o desenvolvimento cerebral, mas que só se manifestam no final da adolescência. “É um tema muito estudado, pois é crescente o número de evidências, o que tem permitido se tentar desenvolver novos tratamentos, por isso é importante o familiar saber que há um movimento da ciência para tentar avançar em relação à doença”.

Hoje, caso presencie uma pessoa em surto psicótico, o cidadão deve levá-la ao Caps – Centro de Atenção Psicossocial de sua cidade, ou, nos municípios onde não existir Caps, à unidade básica de saúde, pois os médicos da atenção primária estão aptos a avaliar os casos e fazer o correto encaminhamento.