Transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM)

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O Transtorno Disfórico Pré Menstrual (TDPM) é uma forma mais grave da TPM, que afeta de 3 a 8% das mulheres. A principal característica do TDPM é a severidade dos sintomas, que podem causar disfunção física, psíquica ou emocional. Nestes casos o tratamento é recomendado pois o TDPM interfere com a habilidade da mulher de funcionar socialmente ou no trabalho. Os principais sintomas, como na TPM incluem (mas de forma mais severa):

  • sentimentos profundos de tristeza ou desespero, com possível ideação suicida
  • tensão ou ansiedade extremas
  • ataques de pânico
  • diarreia
  • alterações do humor, choro
  • irritabilidade ou raiva persistentes que criam conflitos interpessoais – tipicamente as mulheres não percebem o impacto que o transtorno tem nos familiares e amigos próximos
  • apatia ou desinteresse em atividades de vida diária
  • infecções por cândida
  • dificuldades de concentração
  • fadiga
  • insônia ou hipersonia
  • inchaço
  • palpitações
  • dores nas mamas
  • dores de cabeça, nos músculos ou articulações

Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Psiquiátrica Americana (1994), os critérios para o transtorno são os seguintes:

A. Os sintomas devem ocorrer durante a semana anterior à menstruação e remitirem poucos dias após o início desta. Cinco dos seguintes sintomas devem estar presentes e pelo menos um deles deve ser o de número 1, 2, 3, ou 4:

1. Humor deprimido, sentimentos de falta de esperança ou pensamentos autodepreciativos.
2. Ansiedade acentuada, tensão, sentimentos de estar com os “nervos à flor da pele”.
3. Significativa instabilidade afetiva.
4. Raiva ou irritabilidade persistente e conflitos interpessoais aumentados.
5. Interesse diminuído pelas atividades habituais.
6. Sentimento subjetivo de dificuldade em se concentrar.
7. Letargia, fadiga fácil ou acentuada falta de energia.
8. Alteração acentuada do apetite, excessos alimentares ou avidez por determinados alimentos.
9. Hipersonia ou insônia.
10. Sentimentos subjetivos de descontrole emocional.
11. Outros sintomas físicos, como sensibilidade ou inchaço das mamas, dor de cabeça, dor articular ou muscular, sensação de inchaço geral “e ganho de peso”.

B. Os sintomas devem interferir ou trazer prejuízo no trabalho, na escola, nas atividades cotidianas ou nos relacionamentos.

C. Os sintomas não devem ser apenas exacerbação de outras doenças.

D. Os critérios A, B, e C devem ser confirmados por anotações prospectivas em diário durante pelo menos dois ciclos consecutivos.

Fonte: Reportagem do Estado de São Paulo

Como problemas emocionais se transformam em doenças?

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ideia de que fenômenos emocionais levam a alterações físicas é antiga. Em 1628, o anatomista inglês William Harvey (1578-1657) observou que todo mal-estar sentido na mente era direcionado para o coração. Hoje se sabe que o inconsciente interpreta e responde ao que chega ao cérebro por meio das terminações nervosas do corpo. É o que acontece quando levamos um susto, por exemplo.

Contra uma possível ameaça, o cérebro dispara reações para enfrentá-la ou fugir dela. “O coração acelera os batimentos para redistribuir o sangue para os músculos correrem ou lutarem e para o cérebro processar com rapidez toda essa situação. É por isso também que, para oxigená-los, a respiração fica mais rápida. É o chamado estresse, que envolve o sistema nervoso, hormonal e imunológico”, explica Artur Zular, presidente do Comitê Multidisciplinar de Medicina Psicossomática da Associação Paulista de Medicina.

Sem a fonte estressora, o corpo volta ao normal. Mas em caso de estresse permanente as coisas se complicam: os órgãos podem se esgotar, adoecer e o sistema imunológico tem sua ação inibida, facilitando o aparecimento de asma, alergias, gastrite, infecções e problemas cardíacos.

Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2014/04/como-problemas-emocionais-se-transformam-em-doencas.html

9 formas com que seu cérebro sofre quando você não dorme direito

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Ficar cansado é mais destrutivo do que você pensa. Você fica mais propenso a tomar decisões arriscadas, a esquecer o que fez e, muitas vezes, a agir feito idiota. Dirigir cansado é tão perigoso quanto dirigir bêbado! É ruim, inclusive, para seu cérebro.

Então, durma o suficiente – pelo menos 8 horas por dia – para ter um cérebro em plena forma. Afinal, os efeitos do cansaço no órgão não são bacanas:

1. Perda de memória
O hipocampo, uma parte do cérebro, exibe um padrão de atividade neural quando a mente “grava” novas informações. Cientistas acreditam o órgão faz essa atividade enquanto nós dormimos – sim, enquanto dormimos, gravamos as informações. Portanto, se você não dorme, você acaba “perdendo” suas memórias.

2. Raiva
Instabilidade emocional pode ser, em parte, um produto de comunicação interrompida entre duas regiões cerebrais. Mais precisamente entre a amígdala, estrutura cerebral responsável pelas emoções, e o córtex pré-frontal, responsável por regular os sentimentos. Não dormir corta essa conexão e sua amígdala fica totalmente sem filtro.

3. Pensamento rápido prejudicado
Quando você não dorme, seus argumentos ficam meio sem sentido! O cansaço afeta os processos cognitivos do pensamento, o que ajuda na hora de um debate. Cientistas acreditam as atividades no Giro frontal inferior - responsável pelo poder de argumentação -  melhoram enquanto dormimos

4. Alucinações
O cérebro bem descansado é capaz de filtrar melhor estímulos (som, luz, cheiro, etc…). Quando o cérebro não consegue filtrar os estímulos recebidos, o caos se instala. Depois de virar uma noite, as pessoas podem começar a ver coisas que não estão lá.

5. Distração
Todos nós perdemos o foco de vez em quando, mas existe uma parte do cérebro responsável pela atenção e ela é uma das mais prejudicadas quando estamos cansados. Depois de uma boa noite de sono, seu cérebro descansa e volta ao normal.

6. Dor de cabeça
Adultos saudáveis podem perder algumas funções cerebrais quando não dormem e isso pode dar uma dor de cabeça daquelas. As alterações nos lobos frontal, temporal e parietal são os responsáveis pela dor, mas os cientistas ainda não sabem explicar o porquê.

7. Fala arrastada
O lobo temporal, a região do cérebro que processa a linguagem, é muito exigida durante o dia. Se deixamos de dormir, essa parte do cérebro pode ficar sobrecarregada e causar uma fala arrastada – a famosa voz de sono.

8. Decisões arriscadas
Pessoas cansadas não deveriam tomar decisões importantes. Não dormir causa alterações no córtex pré-frontal, responsável, entre outras coisas, pelo julgamento de possibilidades. Isso faz você achar que pode conseguir as coisas do seu jeito, mas isso pode ser um engano e tanto. NÃO APOSTE COM SONO.

9. Lesão cerebral
Não dormir pode matar algumas células do cérebro. Infelizmente, os danos são irreparáveis nesses casos. Você não vai conseguir recuperar as células perdidas, mas pode evitar uma perda maior com uma boa noite de sono – pelo menos 8 horas por dia.

 

Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Neurociencia/noticia/2015/06/9-formas-com-que-seu-cerebro-sofre-quando-voce-nao-dorme-direito.html

“A educação atual produz zumbis” – afirma psiquiatra chileno

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O psiquiatra chileno Claudio Naranjo, em entrevista à Época, diz que investir numa didática afetiva é a saída para estimular o autoconhecimento dos alunos e formar seres autônomos e saudáveis.

psiquiatra chileno Claudio Naranjo tem um currículo invejável. Formou-se em medicina na Universidade do Chile, especializou-se em psiquiatria em Harvard e virou pesquisador e professor da Universidade de Berkeley, ambas nos EUA. Desenvolveu teorias importantes sobre tipos de personalidade e comportamentos sociais. Trabalhou ao lado de renomados pesquisadores, como os americanos David McClelland e Frank Barron. Publicou 19 títulos. Sua trajetória pode ser classificada como irrepreensível pelo mais ortodoxo dos avaliadores. Ele é, inclusive, um dos indicados ao Nobel da Paz deste ano. É comum, no entanto, que Naranjo seja chamado, em tom pejorativo, de esotérico e bicho grilo. Há mais de três décadas, ele e a fundação que leva seu nome pregam que os educadores devem ser mais amorosos, afetivos e acolhedores. Ele defende que essa é a forma mais eficaz de ajudar todos os alunos – não só os melhores – a efetivamente aprender “e assim mudar o mundo”, como ele diz. Claudio Naranjo esteve no Brasil para participar do evento sobreeducação básica Encontro de Educadores.

ÉPOCA – O senhor é psiquiatra e desenvolveu teorias importantes em estudos de personalidade. Hoje trabalha exclusivamente com educação. Por que resolveu se dedicar a esse tema? Claudio Naranjo – Meu interesse se voltou para a educação porque me interesso pelo estado do mundo. Se queremos mudar o mundo, temos de investir em educação. Não mudaremos a economia, porque ela representa o poder que quer manter tudo como está. Não mudaremos o mundo militar. Também não mudaremos o mundo por meio da diplomacia, como querem as Nações Unidas – sem êxito. Para ter um mundo melhor, temos de mudar a consciência humana. Por isso me interesso pela educação. É mais fácil mudar a consciência dos mais jovens.

ÉPOCA – Quais os problemas do modelo educacional atual na opinião do senhor? Naranjo – Temos um sistema que instrui e usa de forma fraudulenta a palavra educação para designar o que é apenas a transmissão de informações. É um programa que rouba a infância e a juventude das pessoas, ocupando-as com um conteúdo pesado, transmitido de maneira catedrática e inadequada. O aluno passa horas ouvindo, inerte, como funciona o intestino de um animal, como é a flora num local distante e os nomes dos afluentes de um grande rio. É uma aberração ocupar todo o tempo da criança com informações tão distantes dela, enquanto há tanto conteúdo dentro dela que pode ser usado para que ela se desenvolva. Como esse monte de informações pode ser mais importante que o autoconhecimento de cada um? O nome educação é usado para designar algo que se aproxima de uma lavagem cerebral. É um sistema que quer um rebanho para robotizar. A criança é preparada, por anos, para funcionar num sistema alienante, e não para desenvolver suas potencialidades intelectuais, amorosas, naturais e espontâneas.

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ÉPOCA – Como é  possível mudar esse modelo? Naranjo – Podemos conceber uma educação para a consciência, para o desenvolvimento da mente. Na fundação, criamos um método para a formação de educadores baseado em mais de 40 anos de pesquisas. O objetivo é preparar os professores para que eles se aproximem dos alunos de forma mais afetiva e amorosa, para que sejam capazes de conduzir as crianças ao desenvolvimento do autoconhecimento, respeitando suas características pessoais. Comprovamos por meio de pesquisas que esse é o caminho para formar pessoas mais benévolas, solidárias e compassivas. Hoje a educação é despótica e repressiva. É como se educar fosse dizer faça isso e faça aquilo. O treinamento que criamos está entre os programas reconhecidos pelo Fórum Mundial da Educação, do qual faço parte. Já estive com ministros da Educação de dezenas de países para divulgar a importância dessa abordagem.

>> A conta do fracasso na educação

ÉPOCA – E qual foi a recepção? Naranjo – A palavra amor não tem muita aceitação no mundo da educação. Na poesia, talvez. Na religião, talvez. Mas não na educação. O tema inteligência emocional é um pouco mais disseminado. É usado para que os jovens tomem consciência de suas emoções. É bom que exista para começar, mas não tem um impacto transformador. A inteligência emocional é aceita porque tem o nome inteligência no meio. Tudo o que é intelectual interessa. Não se dá importância ao emocional. Esse aspecto é tratado com preconceito. É um absurdo, porque, quando implementamos  uma didática afetuosa, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo. Os ministros da Educação me recebem muito bem. Eles concordam com meu ponto de vista, mas na prática não fazem nada. Pode ser que isso ocorra por causa da própria inércia do sistema. O ministro é como um visitante que passa pelos ministérios e consegue apenas resolver o que é urgente. Ele mesmo não estabelece prioridades. Estou mais esperançoso com o novo ministro da Educação de vocês (Renato Janine Ribeiro). Ele me convidou para jantar, para falarmos sobre minhas ideias. É a primeira vez que a iniciativa parte do lado do governo. Ele é um filósofo, pode fazer alguma diferença.

“Quando há amor na forma de ensinar, o aluno aprende mais facilmente qualquer conteúdo”  

ÉPOCA – Para quem decidiu ser professor, não seria natural sentir amor, compaixão e vontade de cuidar do aluno? Naranjo – Uma vez dei uma aula a um grupo de estudantes de pedagogia na Universidade de Brasília. Fiquei muito decepcionado com a falta de interesse. Vendo minha expressão, o coordenador me disse: “Compreenda que eles não escolheram ser educadores. Alguns prefeririam ser motorista de táxi, mas decidiram educar porque ganham um pouco mais e têm um pouco mais de segurança. Estão aqui porque não tiveram condições de se preparar para ser advogados ou engenheiros ou outra profissão que almejassem”. Isso acontece muito em locais em que a educação não é realmente valorizada. Quem chega à escola de educação são os que têm menos talento e menos competência. Não se pode esperar que tenham a vocação pedagógica, de transmitir valores, cuidar e acolher.

>> Brasil fica em 60° lugar em ranking mundial de educação em lista com 76 países ÉPOCA – O senhor diz que o sistema de educação atual desperdiça talentos, rotulando-os com transtornos e distúrbios. Pode explicar melhor esse ponto? Naranjo – Humberto Maturana, cientista chileno, me contou que a membrana celular não deixa entrar aquilo que ela não precisa. A célula tem um modelo em seus genes e sabe o que necessita para construir-se. Um eletrólito que não lhe servirá não será absorvido. Podemos usar essa metáfora para a educação. As perturbações da educação são uma resposta sã a uma educação insana. As crianças são tachadas como doentes com distúrbios de atenção e de aprendizado, mas em muitos casos trata-se de uma negação sã da mente da criança de não querer aprender o irrelevante. Nossos estudantes não querem que lhe metam coisas na cabeça. O papel do educador é levá-lo a descobrir, refletir, debater e constatar. Para isso, é essencial estimular o autoconhecimento, respeitando as características de cada um. Tudo é mais efetivo quando a criança entende o que faz mais sentido para ela.

ÉPOCA – Por que a educação caminhou para esse modelo? Naranjo – Isso surgiu no começo da era industrial, como parte da necessidade de formar uma força de trabalho obediente. Foi uma traição ao ideal do pai do capitalismo, Adam Smith, que escreveu A riqueza das nações. Ele era professor de filosofia moral e se interessava muito pelo ser humano. Previu que o sistema criaria uma classe de pessoas dedicadas todos os dias a fazer só um movimento de trabalho, a classe de trabalhadores. Previu que essa repetição produziria a deterioração de suas mentes e advertiu que seria vital dar a eles uma educação que lhes permitisse se desenvolver, como uma forma de evitar a maquinização completa dessas pessoas. Sua mensagem foi ignorada. Desde então, a educação funciona como um grande sistema de seleção empresarial. É usada para que o estudante passe em exames, consiga boas notas, títulos e bons empregos. É uma distorção do papel essencial que a educação deveria ter.

>> O professor é o fator que mais influencia na educação das crianças

ÉPOCA – Há algo que os pais possam fazer? Naranjo – Muitos pais só querem que seus filhos sigam bem na escola e ganhem dinheiro. Acho que os pais podem começar a refletir sobre o fato de que a educação não pode se ocupar só do intelecto, mas deve formar pessoas mais solidárias, sensíveis ao outro, com o lado materno da natureza menos eclipsado pelo aspecto paterno violento e exigente. A Unesco define educar como ensinar a criança a ser. As Constituições dos países, em geral, asseguram a liberdade de expressão aos adultos, mas não falam das crianças. São elas que mais necessitam dessa liberdade para se desenvolver como pessoas sãs, capazes de saber o que sentem e de se expressar. Se os pais se derem conta disso, teremos uma grande ajuda. Eles têm muito poder de mudança. 

FONTE: http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/05/claudio-naranjo-educacao-atual-produz-zumbis.html

Distimia – Uma Forma Da Depressão

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Este trecho de um artigo descreve bem a Distimia.

Adriano Persone Prestes de Camargo – Mestre em Psiquiatria pela FMUSP
Belquiz Avrichir – Médica assistente do IPQ-HC.

Você conhece alguém meio mal humorado, pessimista, que vive se queixando de estar cansado? Sempre sem muita disposição, ele parece que tem pouca energia. Fala que é daqueles que teve o azar de ter problemas com o sono! Dorme mal, vive reclamando da vida! Outras vezes cochila pelos cantos, durante o filme, no meio das conversas. Parece sempre meio desinteressado. Alguns dizem que ele tem o “gênio difícil” e que é difícil de conviver.

Se você conhece alguém com as características acima saiba que ele pode ser um portador de Distimia e que no Brasil, existem 5 a 11 milhões de pessoas que sofrem desse mal! Eles são 3 a 6% por cento da população no mundial! De cada 100 pacientes atendidos nos postos de saúde, 7 provavelmente têm Distimia.

Entre os pacientes que possuem algum transtorno mental, mais ou menos um terço deles (36% aproximadamente), apresentam sintomas depressivos leves e de longa duração. Essas pessoas podem ter Distimia. Esses números, que parecem tão altos, ocorrem porque é muito comum uma pessoa que tem um transtorno mental, como pânico, uma fobia ou obsessões, desenvolver sintomas depressivos. É o que os psiquiatras chamam de “comorbidade”, quando dois ou mais quadros psiquiátricos se associam num mesmo indivíduo.

A Distimia é um tipo de depressão que faz parte do grupo dos transtornos mentais que interferem com o humor das pessoas e por isso os psiquiatras chamam esses quadros de “Transtornos do Humor”. Ela é diferente dos outros tipos de depressão porque seus sintomas são mais leves, mas têm uma longa duração. Isso torna difícil que o paciente se perceba deprimido, fazendo com que ele conviva com essa depressão, tentando se sobrepor, lutar contra ela. É por isso que é tão prejudicial, pois essa situação acaba por trazer inúmeras consequências para seus portadores. No entanto, existem estudos internacionais que mostram que ela é subdiagnosticada pelos médicos, sejam eles clínicos ou especialistas.

As pessoas com Distimia apresentam altas taxas de absenteísmo: faltas no trabalho. Essas taxas são quase tão altas quanto às faltas devidas às cardiopatias crônicas, e estão entre as primeiras causas de absenteísmo no mundo!

Essas pessoas quase não conseguem sentir prazer nas coisas que normalmente as interessava, e por isto têm pouquíssimos interesses. São pessimistas. Muitas vezes têm dificuldades com o sono, ou com apetite. É como se um vazio se esparramasse em toda à sua volta, e às vezes houvesse dentro deles uma espécie de buraco que não conseguem preencher com nada. Às vezes, por isso, desenvolvem uma obesidade da qual não conseguem se livrar.

Como é que podemos então falar de menor gravidade, se tantas são as consequências para aqueles que sofrem de depressão? A menor gravidade dos sintomas justifica então menos preocupação com essas pessoas?

Apesar dos sintomas menos acentuados, a Distimia é um transtorno que acarreta um prejuízo pessoal muito importante. Não só do ponto de vista das relações pessoais, mas no plano econômico também! Em geral, essas pessoas têm poucas relações, poucas amizades, e concentram suas atividades quase que exclusivamente no trabalho, seja ele um emprego formal ou não. Isso porque, é na situação de trabalho que as funções e a forma do indivíduo se comportar são mais bem definidos, facilitando sua atuação. Apesar de toda essa “dedicação”, seu desempenho profissional é, em geral, mediano, e muitas vezes insatisfatório para o próprio indivíduo, pois carrega consigo um peso, uma falta de vitalidade, de criatividade e de dinamismo que o prejudica em todos os lados.

É muito comum ouvirmos o paciente contar que faz as coisas com dificuldade, como se estivesse pesado, lento, sem prazer, fazendo o mínimo, só o essencial a cada dia.

Isso tudo faz com que o indivíduo não procure ajuda. Ele não vai ao médico, e quando o faz, raramente procura um psiquiatra. Na maioria das vezes ele vai a um clínico com queixas como falta de apetite, insônia ou cansaço.

O segredo das amizades que duram

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O que faz com que as pessoas virem amigas? E por que algumas amizades duram e outras não? Um artigo do site Psychology Today reuniu alguns estudos que trazem bons esclarecimentos sobre o tema. Os pontos principais, bem práticos, estão listados a seguir:

Condições para começar uma amizade

Além de alguns fatores básicos, como ter contato com a pessoa com alguma regularidade (afinal, assim temos mais chance de conhecê-la melhor e aprofundar nossos laços) e ter coisas em comum, dois aspectos são fundamentais para que se passe do posto de conhecido para o de amigo:

1. Disposição de se abrir.  

Segundo Beverley Fehr, pesquisadora da Universidade de Winnipeg e autora do livro “Friendship Processes”, o que determina que passemos de meros conhecidos a amigos é a disposição de se abrir e revelar coisas mais pessoais ao outro – e isso precisa vir dos dois lados. “Nos estágios iniciais da amizade, isso tende a ser um processo gradual. Uma pessoa aceita o risco de revelar uma informação pessoal e ‘testa’ se a outra faz o mesmo”, diz ela. Aqui, a reciprocidade é essencial para a coisa funcionar, porque leva a outra condição importante:

2. Intimidade.

De acordo com a pesquisa de Fehr, pessoas com boas amizades envolvendo o mesmo sexo têm uma boa compreensão do que envolve a intimidade: elas sabem se abrir e expressar suas emoções, sabem o que dizer quando o amigo lhes conta algo e respeitam os limites – entendem, por exemplo, que sinceridade não significa falar tudo o que lhes vêm à cabeça, especialmente no que se refere a opiniões sobre a vida e os gostos do outro. Até porque outras condições apontadas foram aceitaçãolealdade e confiança. Essas qualidades foram consideradas mais importantes do que ajudas práticas, como emprestar dinheiro.

Por que algumas amizades duram e outras não?

Ok, entendemos o que dá aquele pontapé inicial às amizades. Mas há outro fator, descoberto pelas psicólogas sociais Carolyn Weisz e Lisa F. Wood, da Universidade de Puget Sound, em Tacoma, Washington, que é fundamental para fazer com que as nossas relações durem: o apoio à nossa identidade social. Em outras palavras, procuramos amigos que entendam e validem a ideia que temos sobre nós mesmos e sobre o nosso papel na sociedade ou grupo de que fazemos parte – o que pode estar associado à religião, etnia, profissão ou mesmo participação em algum clube.

Para chegar a essa conclusão, elas acompanharam um grupo de estudantes universitários por anos durante toda a sua graduação, sempre pedindo a eles que descrevessem níveis de proximidade, contato, apoio geral e apoio à identidade social que sentiam em relação a amigos do mesmo sexo. A conclusão foi que todos esses fatores ajudaram a predizer se a amizade seria mantida ou não. Mas um único fator pôde predizer quem seria elevado à posição de melhor amigo: a pessoa, nesses casos, era parte de um mesmo grupo (fraternidade, time etc.) ou pelo menos apoiava e reafirmava o papel do amigo dentro desse grupo. Um cristão podia ter como melhor amigo alguém que não tivesse religião, desde que esse amigo apoiasse sua identidade como cristão. E, como temos vários papeis na vida, é mais provável que nosso melhor amigo esteja ligado ao papel que é mais importante para nós, que melhor representa a nossa identidade.

Por que escolhemos assim os amigos? Segundo o estudo, além de isso estar relacionado a níveis maiores de intimidade e compreensão, também envolve o aumento da autoestima. Esse senso de identidade que influencia até o comportamento de viciados em drogas. Outro estudo de Weisz concluiu que as pessoas eram mais propensas a se livrar de seus vícios depois de três meses quando sentiam que seus papéis sociais e senso de identidade entravam em conflito com o uso de drogas.

Nossas identidades sociais são tão importantes para nós que estamos dispostos a ficar com as pessoas que apoiam a nossa identidade social e nos afastar daqueles que não fazem isso. Podemos até mudar de amigos, quando os antigos não apoiam nossa visão atual de nós mesmos”, diz o artigo do Psychology Today. “A sabedoria popular diz que escolhemos os amigos por causa de quem eles são. Mas acontece que nós realmente os amamos por causa da maneira como eles apoiam quem nós somos.”

De acordo com Debra Oswald, psicóloga da Universidade de Marquette (em Wisconsin, EUA), que estudou o relacionamento entre voluntários que estavam no ensino médio e seus melhores amigos, há quatro comportamentos básicos necessários para manter o vínculo – que valem para todo mundo, não importa se você tem 15 ou 70 anos.

Os dois primeiros são pontos que exploramos bastante até agora: tomar a iniciativa de se abrir eapoiar nossos amigos. O terceiro ponto é a interação. Não importa se o amigo é seu vizinho ou mora em outro continente: você precisa estar em contato com ele, seja escrevendo, conversando ao telefone, visitando. Felizmente, com a internet, a proximidade física tem pouco efeito sobre nossa capacidade de manter uma amizade.

Como manter a amizade

Por fim, é importante ser positivo. Precisamos nos abrir com nossos amigos, mas isso não significa que está tudo bem ficar choramingando por horas e só ver o lado negativo de tudo. É claro que faz parte de ser amigo segurar a onda durante os perrengues da vida, mas, no final das contas, a intimidade que faz com que uma amizade prospere deve ser algo agradável e que faça bem para os dois lados.

Fonte: http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoas-funcionam/o-segredo-das-amizades-que-duram/?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super

Como diferenciar a tristeza da depressão?

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O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais tentou estabelecer um conjunto de critérios padronizados que distinguem tristeza “normal” de depressão clínica. Mas, fazer o diagnóstico continua a ser uma ciência inexata. Este não é um tumor físico que você pode medir em centímetros, mas através da medição de humor.

De acordo com o manual, para um período de melancolia ser considerado um episódio depressivo, deve persistir por pelo menos duas semanas, e será acompanhada por, pelo menos, cinco destes sintomas:

– O humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, como indicado por relato subjetivo (por exemplo, sente-se triste ou vazio) ou observação feita por terceiros (por exemplo, chora muito);

– Diminuição acentuada do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias;

– Perda significativa de peso sem estar em dieta ou ganho de peso (por exemplo, uma mudança de mais de 5% do peso corporal em um mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias;

– Insônia ou excesso de sono quase todos os dias;

– Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis ​​por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento);

– Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;

– Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante) quase todos os dias (não meramente auto recriminação ou culpa por estar doente);

– Diminuída capacidade de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação por outros);

– Pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, ou uma tentativa de suicídio ou um plano específico para cometer suicídio.

O principal ponto crucial de qualquer um desses diagnósticos é responder se a sua depressão está impedindo-os de ir trabalhar ou cuidar da sua rotina. Caso positivo, está na hora de procurar ajuda.


Fonte: http://manualdohomemmoderno.com.br/comportamento/depressao-masculina-como-reconhecer-o-mal-do-homem

SEU FILHO PRECISA MESMO SER TÃO FELIZ?

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Escrito por Cris Leão via Antes que eles cresçam 

 

No meu tempo de criança, os pais eram pessoas esforçadas pelo sustento da família. Com ostentação ou sem, as pessoas eram mais preocupadas com o trabalho do que com ser feliz. Talvez por isso, já que filhos querem sempre fazer tudo diferente dos pais, agora todo mundo quer fazer o filho feliz, acima de tudo. Isso explica os valores escandalosos que se paga hoje em dia por uma festa de aniversário, a quantidade de brinquedos que as crianças têm e o número enorme de brasileiros indo para a Disney, às vezes para passar o final de semana. Claro que existe a culpa de muitos pais que trabalham demais e tentam compensar os filhos de alguma forma.

Mas reflexo da culpa ou não, as crianças de agora nasceram para ser felizes. Será que está certo isso?

Vamos lembrar da nossa infância. Eu pelo menos, era muito feliz. Brincando com minha amiga que morava na casa ao lado, passávamos horas penteando o cabelo uma da outra, ou fazendo comidinha com as plantas do jardim. A maior aventura de que me recordo era brincar de pega-pega com o meu cachorro. Muito básico para você? Acontece que meu cachorro se transformava em uma onça que na verdade era uma Medusa, então em um simples olhar, ele poderia nos transformar em pedras. Por isso estávamos sempre equipadas com frascos vazios de shampoo cheios de água que explodiam como granadas quando caiam no chão. Pois é, criança vem com imaginação de berço. Por isso não precisa ir até Orlando ver os espetáculos de fogos de artifício para ficar maravilhada. Aliás, cá entre nós, já estive na Disney 3 vezes (2 em Orlando e 1 em Paris) e nunca vi tanta criança triste em um parque. Chorando, cansadas, angustiadas, com as mães e os familiares estressados. Claro, já viu o tamanho do lugar? E a quantidade de informação? E de sorrisos maquiados, brilhos, alegria explosiva? Gente, somos humanos. Isso não é um filme. É vida real. Não somos super heróis, nem princesas. Seu filho vai comer aquela salsicha processada junto com aquele pão velho de uma lanchonete linda com várias coisas girando, e pode ser que passe mal. E ai? Não! Não pode passar mal na Disney. Tem que curtir. Tem que ser feliz.

Eu trabalhei para a Disney traduzindo todos os materiais para português durante 4 anos. Sou encantada com a empresa e com o negócio em si, gosto de ir porque moro a 300 quilômetros de distância, temos o passe anual então é um programa barato em um lugar super organizado e bonito na maioria das vezes. Só estou usando de exemplo porque sei que é uma viagem muito cara para se fazer do Brasil mas isso não está impedindo cada vez mais brasileiros de fazerem. Minha pergunta usando este exemplo é: será que precisamos fazer tanto pelos nossos filhos? (Viagem de 8 horas de avião, filas intermináveis, kilômetros e mais kilômetros de parque de diversão) Eu suponho que não. E que está errado os pais sentirem que são responsáveis por fazer dos filhos, pessoas felizes. De onde tiramos essa ideia maluca?

O que eles precisam na verdade é de adultos para educá-los. E como adultos é claro que estamos ocupados. Com a família, com o trabalho, com as funções da casa. Se nessa lista se somar “a felicidade do(s) meu(s) filho(s)” alguém vai ficar muito sobrecarregado e frustado. Talvez seu filho, talvez você, talvez todo mundo. É chato tentar e não conseguir. Já pensou como sente os pais que pagaram a viagem em 6 vezes, passaram 8 horas na lata de sardinha, mais 1 hora em um brinquedo se o filho sair do brinquedo chorando?

Uma vez eu li o livro Encantador de Cães e fiquei fascinada com o raciocínio simples que o genial Cesar Millan escreve ali. Ele diz que cães só vão obedecer quem eles respeitam. E para ganhar respeito, é preciso ser a autoridade, é preciso colocar ordem antes do amor. Agora tente trocar a palavra “cães” por “filhos”, dá no mesmo. Autoridade é o contrário de democracia. Os pais não podem estar sempre abertos “o que querem comer, o que vamos fazer hoje, onde vamos passar as férias”. Entende como é complicado para a criança ouvir isso? Sentir que não existe uma ordem. Ela no auge dos seus 4 anos (ou por volta disso) é que precisa saber, querer e lidar com seus desejos. Meu Deus, está tudo errado ai. No meu tempo de criança, minha mãe interrompia a brincadeira trazendo uma bandeja com uma limonada fresca e biscoitos Maria. Sempre que lembro dessa cena (que aconteceu várias vezes) ela aparece iluminada como uma fada. O que eu sentia era: Nossa, ela é mágica! Como ela sabe que estamos com fome e com sede? Teria sido bem diferente se ela tivesse aparecido e perguntado: querem lanchar? vão querer sorvete ou pode ser biscoito mesmo? Estava pensando em fazer uma limonada, vocês vão beber? Ou é melhor eu trazer um suco de uva?

Infelizmente não estou escrevendo isso porque já aprendi a lição depois de ler o livro. Estou tentando aprender. E só estou escrevendo sobre isso porque descobri que tenho errado bastante. Desde que nos mudamos para Miami, fico com pena e compaixão por qualquer expressão de sofrimento que meus filhos tenham. Porque sei que é difícil para eles. E até esqueço que é difícil também para mim. Minha vida mudou completamente. Mas nem lembro disso. Só penso neles. A consequência? Minha filha de 4 anos cada dia faz uma coisa para me irritar. E então percebi que ela está fazendo isso porque eu estou irritando ela. E porque? Porque estou aberta todos os dias para ouvir, para entender o lado dela. Não parece errado à princípio, certo? Mas está errado. Criança precisa de adulto, alguém que tenha um norte, e ela acompanha o caminho, se frustando, entendendo seus limites e entendendo, porque não, que a vida não é um parque de diversões cheio de pessoas fantasiadas sorrindo para você o dia todo. A vida é para evoluir. Vamos tentar evoluir como pais antes que eles cresçam. Já pensou como deve ser frustante a adolescência de uma criança que sempre teve uma, duas, ou mais pessoas prontas a atender seus pedidos? Como deve ser difícil perder para um adulto que passou a infância sempre ganhando? Nem que a custa de 12 sofridas prestações para os pais?

Educar dá mais trabalho do que servir o sorvete antes do jantar, já que seu filho está querendo tanto. Educar envolve mais compromisso do que pagar as 6 parcelas da viagem mágica. Educar é coisa de gente grande. Deve ser por isso que crianças não podem ter filhos. Porque filhos precisam de adultos. Parece que esse é o grande problema da minha geração, não queremos ser adultos. Outro dia vi um post sobre a crise dos 25 anos. Levei o maior susto! A maioria das pessoas que conheço estão nessa crise aos 35 (ou mais). Está na hora de dar esse passo. Parar de focar só na diversão e na felicidade e evoluir, amadurecer. Todo grande passo na vida acontece quando a gente faz aquilo que é desconfortável.

Já aprendemos muito sobre diversão e entretenimento, que tal agora aprender a viver?

 

“Ele morreu, mamãe?”

rei-leao08

Personagens de filmes infantis morrem mais que os de filmes adultos.

Mas é importante deixar a criançada assistir.

Camila Guimarães

Os pais estão reunidos na sala de TV para assistir, com os filhos pequenos, a um DVD de desenho animado. Subitamente, o programa aparentemente inofensivo virou um problema para o fisioterapeuta José Luiz da Silva. Ele foi surpreendido pela reação de Julia, sua filha mais velha, então com 4 anos, a uma das cenas.

O desenho era O Rei Leão, que conta como o pequeno Simba assume o trono no lugar de seu pai. Um inimigo ganancioso e traiçoeiro mata o pai de Simba – e seu corpo é descoberto pelo leãozinho. Ao assistir à cena, Julia chorou. Não parava de chorar. Sem conseguir consolá-la, os pais desligaram a TV e se viram obrigados a falar com a filha sobre a morte, ali mesmo, no sofá.

Os anos passaram e os pais de Julia se separaram. Silva se casou de novo e, com Maria José Maciel, teve Luiza. A menina, hoje, está com a mesma idade de Julia na época da choradeira. O pai decidiu que já era hora de Luiza conhecer a história de Simba. Mas, desta vez, precavido – e talvez traumatizado -, usou o controle remoto e pulou a parte da morte do velho rei leão. Luiza adorou o desenho e pediu para ver de novo.

A família viu mais uma vez, novamente sob a censura do controle remoto. Até que os pais tomaram coragem, combinaram um discurso a respeito da morte e sentaram com Luiza para assistir ao desenho sem cortes. No momento da cena mortal, tensão na sala. Silva e Maria José não desgrudaram os olhos da menina, esperando as lágrimas.

Que não vieram. Luiza não chorou nem perguntou a respeito do assassinato – em nenhuma das dezenas de vezes que assistiu ao DVD. Mesmo assim, os pais continuam atentos. “Procuramos saber antes do enredo dos filmes que ela vai ver e assistimos junto”, diz Silva.

Situações como a de Julia podem acontecer com mais frequência do que os pais gostariam. De acordo com uma pesquisa publicada no final do ano passado no British Medical Journal (BMJ), as famílias caem numa armadilha quando acham que desenhos infantis são menos mórbidos que filmes adultos.

Conduzida por psicólogos e psicanalistas de universidades do Canadá e do Reino Unido, a pesquisa comparou os desenhos para crianças com dramas adultos, todos sucessos de bilheteria. Cada produção infantil foi comparada com dois filmes adultos do mesmo ano – desde 1937, com o clássico Branca de Neve, até 2013, com Frozen.

Descobriram que cada personagem importante dos desenhos tem chance de morrer 2,5 vezes maior. E três vezes mais chances de ser assassinado. O estudo observa o número de personagens importantes, a frequência, e o tipo de morte.

“Decidi fazer esse levantamento depois que uma amiga me alertou para não assistir aos primeiros cinco minutos de Procurando Nemo com meu filho pequeno”, diz Ian Colman, professor de epidemiologia da Universidade de Ottawa, no Canadá. A mãe do peixe Nemo é engolida por uma barracuda no início do filme – mais ou menos como acontecia com a mãe de Bambi, abatida a tiros 61 anos antes.

Não é por acaso que o tema da morte aparece nos desenhos infantis. Geralmente, quem morre são os pais – e a ausência deles é, na verdade, a razão de ser do enredo. Por isso, acontecem quase sempre no início do filme.

“Quando o personagem principal fica órgão, a criança imediatamente se identifica com ela”, afirma Glaucia Faria da Silva, psicanalista e psicóloga do Hospital Infantil Sabará. “Ela aprenderá, ao longo do filme, de onde pode tirar forças para superar a dor da perda. Isso fisga a criança”.

Na pesquisa do BMJ, em filmes que mostram famílias, pais e mães têm cinco vezes mais chances de morrer nos desenhos infantis que em histórias para adultos. Não há dados sobre a morte só das mães, mas desde os contos de fadas ela é a ausência preferida.

Ou a mães não existe desde o início da história (como em A Bela e a Fera) ou morre (como em Bambi). Às vezes, é substituída por uma madrasta (Branca de Neve e Cinderela). “A mãe é preservada como a imagem da bondade e a madrasta personifica as coisas ruins”, diz Glaucia. “Isso ensina as crianças a lidar com seus sentimentos”.

Para isso serve a fantasia: para que as crianças aprendam a lidar com sentimentos reais. Por isso, o conselho dos psicólogos é deixa-las ver as cenas “fortes” dos desenhos. Mas há cuidados. “É preciso saber quando é a hora certa para conversar sobre a morte”, diz a psicóloga Maria Tereza Maldonato.

Crianças só entendem que a morte não tem volta perto dos 10 anos. Antes disso, os desenhos são um treino para aprender a lidar com sentimentos que ainda não estão claros. Algumas crianças, como Julia, corarão. Outras, como Luiza, não se incomodarão quando alguém querido morrer. Para todas elas, a realidade seria muito mais assustadora se não fosse o conto de fadas.

FONTE: Guimarães, C. Revista Época: Coluna Paradoxos e contradições: “Ele Morreu, mamãe?”; Edição número 869; 2 de fevereiro de 2015, p. 54-55.