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Tentativa de suicídio na criança e no adolescente: vamos falar sobre isso?

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Seguindo a linha do outubro rosa e do novembro azul, poucos sabem, mas setembro também foi um mês de cor e de mobilização por uma causa importante. O chamado “setembro amarelo” é internacionalmente conhecido como o mês de alerta para o Suicídio.

Este tem sido um grande tabu para a sociedade, dificultando a troca de informações entre as pessoas. Por motivos religiosos, sociais e até econômicos, poucos tem coragem de falar sobre isso, e, quando falam, quem escuta não tem a menor noção de como agir. Apesar de silencioso, o problema está aí, e cada vez maior e mais intenso. A estimativa para os dias atuais é de que cerca de 800 mil pessoas cometam suicídio anualmente. E o pior é que este é um número bem abaixo do real, afinal, muitas intoxicações por venenos, uso abusivo de remédios, atropelamentos, acidentes automobilísticos, ferimentos por armas brancas ou armas de fogo passam despercebidos como possíveis causas de morte autodirecionada.

O suicídio é só a ponta de um grande iceberg. Quantos são aqueles que pensam, planejam e agem direcionando-se à morte sem necessariamente fazê-lo? (…) Estima-se que apenas 1% dos chamados “comportamentos suicidas” chegam realmente ao sistema público de saúde. O restante, passa despercebido, sendo escondido pelo próprio indivíduo ou pela família, achando que “um dia passa” ou que “era uma tentativa de chamar a atenção”.

E assim, os números vão crescendo. Calcula-se que entre 2000 e 2010 tenha havido um crescimento de cerca de 30% da incidência de casos de suicídio na população jovem. Esta é a parcela da população de maior impacto e na qual, infelizmente, mais vem aumentando os casos de comportamentos suicidas. Nossos jovens estão buscando a própria morte e ninguém tem falado sobre isso. Falta a informação à população de que isso existe, e que pode até ser uma tentativa de chamar atenção, mas se este jovem precisa de algo tão extremo para chamar a atenção, é um sinal de que algo não vai bem em sua vida psíquica…

Adolescentes a partir dos 11 anos têm um conhecimento mais claro do que é a morte socialmente conceituada. Nestes, muitos comportamentos são direcionados com a intenção de chegar-se ao ato. Abaixo desta faixa etária, em crianças, a intencionalidade da morte nem sempre é tão óbvia assim. Até porque a morte, para muitas crianças, pode ser apenas uma forma de dormir mais cedo ou uma forma de “encontrar” um ente querido ou até um animal de estimação do qual sente muita falta.

De qualquer forma, devemos nos alertar a qualquer comportamento lesivo autodirecionado, independentemente da idade da pessoa que o comete, da intencionalidade ou do real conhecimento do conceito da morte. Precisamos nos atentar às diferentes formas de se pedir ajuda, inclusive as que não passam tão claramente pelas palavras, e sim por atos.

Muitas vezes, a família, contaminada pelos sentimentos de raiva, impotência, desespero ou dúvida, acaba não conseguindo perceber claramente o risco dos atos. Por isso, a avaliação da real intencionalidade e do risco de novas tentativas precisa SEMPRE passar pelo julgamento de um médico com habilitação e experiência no assunto. Escute nossos jovens, eles podem estar querendo falar.

Dr. Felipe Pinheiro de Figueiredo, médico Psiquiatra da Infância e Adolescência, CRM-PR 31918, Especialista em Análise do Comportamento, Doutor em Saúde Mental pela faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FMRP-USP). Atua na “Essentia- Clínica de Psiquiatria”, em Maringá, no Centro de Atenção Psicossocial Infanti-juvenil (CAPSi) e é professor de Psiquiatria do curso de Medicina da UNICESUMAR.

Adolescente desafiador: Um problema médico no qual a família precisa ser olhada.

adolescente desafiador
Então seu filho não é mais uma criança. De repente, ele adolesceu! Para muitos pais este momento só é reconhecido após uma discussão, um bate-boca, um surto de agressividade. Dentro do desenvolvimento psíquico normal, a adolescência é o momento onde a criança passa a não mais ser “dos pais”, preparando-se para ser “de si”. Por isso, surgem alguns conflitos com os pais e com a família. Em síntese, o objetivo final da adolescência é o distanciamento dos pais. Para isso, é preciso contrapor e encontrar o seu jeito.Apesar desses conflitos naturais e saudáveis para o desenvolvimento, a adolescência não precisa instaurar na família um estado de guerra, dividindo os integrantes e colocando pessoas em berlindas. Além disso, as contraposições às regras e aos limites colocados por adultos não devem ser tão intensas, nem tão frequentes, durando meses. Também não devem atrapalhar o funcionamento esperado do mesmo, seja na escola, na família, com os amigos e parentes. Uma boa medida para esta intensidade dita patológica são os demais adolescentes da mesma idade e condição de vida. Nos casos em que isso acontece, é preciso ação para busca de ajuda: você pode estar diante daquilo que a Medicina e a Psicologia chamam de Transtorno Desafiador – Opositor (TDO).

Preferencialmente, a busca de ajuda para o TDO deve então iniciar no consultório de um médico especializado em comportamento humano: o Psiquiatra. Diferentes causas neurobiológicas, psicológicas e sociais se mesclam em diferentes intensidades, levando a este fim comum. Há que se perceber quais são estas e por onde começar a agir. Transtornos depressivos, bipolares, de déficit de atenção e hiperatividade podem estar na raiz do problema, devendo ser tratado com os melhores arsenais terapêuticos. O Transtorno de conduta pode estar a caminho, afinal, é uma constante complicação do TDO. Assim, deve-se tomar uma atitude intensiva de tratamento.

Apesar desses possíveis caminhos de tratamento, deve-se perceber que, psicologicamente, o TDO é, no fim, um problema da relação familiar, apesar de a origem estar no sujeito adolescendo. Assim, toda a família precisa ser cuidada, e o adolescente não pode (nem deve) ser acusado, sendo levado à consulta com o Psiquiatra como uma punição para o que está acontecendo com a família. Neste sentido, tanto os pais quanto o adolescente devem procurar esta ajuda. Os pais devem se colocar no problema, e não sair dele. Só assim, o adolescente voltará a ver sentido em ser ajudado.

MATÉRIA POR:
FELIPE P. DE FIGUEIREDO
PSIQUIATRIA
CRM/PR: 31918 RQE 17208 | RQE: 17215 | MARINGÁ

 

 

Adolescência: momento singular para a vida.

adolescencia

Quer saber sobre o futuro de uma sociedade? Olhe para os adolescentes. Isto mesmo. Não há momento mais fluido e repleto de alterações que a adolescência. E o adolescente, por ser um quadro branco que espelha o seu ambiente, é o retrato mais fiel de uma sociedade futura.

Proveniente do latim, adolescere significa crescer. Estamos aí falando não só do desenvolvimeto físico; estamos falando de desenvolvimento de atributos e interesses sexuais, modificações da forma de entender o mundo e o seu papel dentro dele. A Adolescência é o momento de encontro consigo mesmo. O momento onde a criança passa a não mais ser “dos pais”, preparando-se para ser “de si”.

Antes disso, no entanto, muitas são as “crises”, as idas e vindas. Adolescer é ter crises. E isto é normal. Mais que isso; isto é saudável. Pasmem. De uma admiração para com os pais, o adolescente passa a admirar os amigos; passa a adquirir hábitos provenientes de outras famílias, questionando-se sobre suas atitudes, direitos e deveres. E assim vai tentando se encontrar e esboçando sua própria imagem…

Existem pais que não suportam ver este distanciamento. Que é difícil, sem dúvida o é. Perceber aquela criança, miniatura de si, individualizando-se e modificando-se em direção a outros, é, sem dúvida, tarefa Hercúlea com a qual os pais precisam se deparar.

Neste momento, as buscas por ajudas médicas fazem muitas vezes parte do arsenal com o qual os pais tentam lidar com estas dificuldades. Com todas estas crises e com todas estas lutas, o fato é que a adolescência é o momento da vida no qual as principais psicopatologias se desenvolvem: depressão, ansiedade social, medos excessivos, manias, problemas alimentares, anorexia, transtorno bipolar, uso de drogas e diversas formas de comportamentos delinqu??entes, impulsivos e de risco… A lista é muito grande. O profissional médico, responsável por detectar se há anormalidades no desenvolvimento adolescente ou nas dinâmicas familiares, deve se posicionar ao detectar a existência de sintomas como estes, visando impedir o aparecimento de problemas mais sérios e crônicos na vida adulta. Muitas vezes, esta intervenção dirige-se, também, à postura dos pais, não aceitadores deste processo natural do adolescer. Neste caso, o melhor a fazer é assistir o desenrolar dos crescimentos: do adolescente e dos pais.

É neste processo de mudanças das famílias e de si, que o jovem vai testando diferentes grupos e tribos; hipotetisa, experimenta, conclui e toma novas decisões. Ao final, somando a bagagem psíquica de seus pais com aquilo que aprendeu com a sociedade, o adolescente vira adulto. Dono de si. Protagonista do mundo.

Matéria por:
FELIPE PINHEIRO DE FIGUEIREDO
Psiquiatra - CRM/PR 31918 | RQE 17208 | Maringá

GIOVANA GARCIA
Psiquiatra - CRM/PR 24337 | RQE 17431 | Maringá

SOMANDO ESFORÇOS NO ATENDIMENTO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNOS MENTAIS GRAVES: PSICOTERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL E PSIQUIATRIA.

2014-05-15 15-2

Um dos debates propostos na mesa redonda que aconteceu no III Congresso de Psicologia e Análise do Comportamento (CPAC), promovido pela UEL, entre 15 e 17 de maio deste ano, tratou do assunto abaixo descrito.

Os transtornos mentais na infância podem constituir um grande risco para o desenvolvimento sócio-cognitivo. Detectados e tratados adequadamente, o prognóstico do indivíduo pode ser favorecido. Diante de sua importância, o Psiquiatra e o Psicólogo muitas vezes precisam somar esforços, objetivando a mais rápida e completa resolução da morbidade, e possibilitando a retomada do desenvolvimento normal. A introdução da terceira edição do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), da American Psychiatric Association, em 1980 representou uma importante inovação para a Psiquiatria Clínica, na medida em que se introduziu uma mudança paradigmática de um sistema nosológico para um sistema sindrômico e classificatório. Na medida em que o DSM e a CID 10 trazem classificações puramente descritivas, não etiológicas, com categorias definidas operacionalmente, a troca de informação entre a Psiquiatria Clínica e a Psicologia analítico-comportamental tornou-se possível, favorecendo aos psicólogos clínicos a busca de classes funcionais possivelmente concomitantes dentro de um quadro sindrômico, e aos Psiquiatras Clínicos à busca de classes funcionais dentro de um quadro sindrômico definido. A interação entre estas duas formas de pensar pode ser interessante em um contexto de saúde mental, na medida em que favorecem o processo de pensar os déficits ou excessos comportamentais das crianças como possíveis diagnósticos psiquiátricos. Com isso, permite-se a divulgação de possibilidades terapêuticas para a saúde mental da infância (técnicas comportamentais e terapias farmacológicas). Nesta palestra foram apresentados conceitos relacionados ao papel do psicólogo analista do comportamento e do psiquiatra comportamentalmente informado, importantes para o tratamento em saúde mental da infância. Abordaram-se questões sobre o processo de construção do diagnóstico em Psiquiatria da Infância, sobre particularidades da Análise Funcional aplicada à infância e sobre o tratamento conjunto entre psiquiatra e psicólogo.

Felipe Pinheiro de Figueiredo (Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento/ Departamento de Medicina, Universidade de São Paulo- FMRP/ UNICESUMAR, Maringá, Brasil) Mary Elly Alves Negrão (Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto – SP, Brasil) Simone Martin Oliani (Departamento de Psicologia, Faculdade Pitágoras de Londrina, Londrina, Brasil)