Falando sobre compulsões

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Nos dias de hoje, as compulsões têm se tornado assunto cada vez mais comuns entre todos nós. Diante da rotina exigente, da sobrecarga no trabalho e em casa, das preocupações frequentes e de todos os aspectos que envolvem a vida na sociedade moderna, estamos sendo atraídos para atividades que possam nos gerar prazer imediato e trazer uma sensação de alívio momentâneo da tensão e da angústia. Dentre essas atividades estão os atos de comprar, comer, praticar exercícios físicos, o uso da internet, o sexo e os jogos eletrônicos e de azar.

Todas essas atividades, dependendo da individualidade de cada um de nós, podem ser extremamente prazerosas e não há problemas em tê-las como “válvulas de escape” em alguns momentos de nossas vidas. O que se torna um problema é quando passamos a utilizá-las para obtenção de prazer rápido, imediato e alívio de sentimentos ruins, de forma repetida, impulsiva, não planejada e sem avaliação das consequências a médio e longo prazo. Nesse momento, transformam-se em compulsões. Assim, um comportamento que era normal e saudável passa a se transformar em uma doença, pois se torna irresistível e assume o controle do indivíduo. Ao invés da liberdade tão saudável e necessária de realizar uma atividade prazerosa, passamos a ser aprisionados por comportamentos automáticos que geram muito prejuízo e sofrimento.

Nesse cenário, a compulsão por compras tem se tornado um problema cada vez mais relevante. Na tentativa de lidar com sofrimentos, perdas, frustrações e até com o estresse diário, nos entregamos a impulsos de nos aliviar obtendo objetos novos e, muitas vezes, até desnecessários naquele momento. Já em relação aos episódios de comer de forma compulsiva, um dos comportamentos mais comuns é aquele que busca no ato de se alimentar de maneira abundante, rápida e com alimentos muito prazerosos, o alívio dos pensamentos, a recompensa pelos problemas e o preenchimento de vazios e angústias. Momentaneamente, isso parece funcionar mas, logo os problemas se mostram ainda mais presentes juntamente com a culpa de ter se entregando novamente à compulsão.

Não menos importante, temos os comportamentos compulsivos no uso da internet, smartphones, redes sociais e jogos eletrônicos, os novos amigos íntimos e inseparáveis da maior parte da população. Todas essas atividades, quando realizadas de forma excessiva, acabam perdendo suas principais funções de facilitadoras da vida moderna, nos afastando do mundo real. A procura intensa por sexo, pelo corpo perfeito através da prática de exercícios físicos extenuantes e por jogos de azar, também se tornam problemas quando passam a dominar nossas vidas e ditar o ritmo de tudo.

As causas para o aparecimento das compulsões são inúmeras e ainda têm sido vastamente estudadas. Estudos já apontam para fatores ligados ao desequilíbrio de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina e para alterações em áreas cerebrais, como o córtex pré-frontal. Inegavelmente, também já sabemos da importância da história de vida de cada um e dos fatores psicológicos e ambientais para o desenvolvimento desses comportamentos.

O caminho mais seguro para a melhora das compulsões e de todos os aspectos negativos relacionados a elas, é a busca por uma ajuda qualificada. É somente por meio do entendimento do significado dos comportamentos compulsivos para cada um e do sofrimento associado a eles, que poderemos estabelecer a melhor forma de ajuda, podendo ela ser farmacológica, através do uso dos psicofármacos disponíveis, e/ou não farmacológica, através da psicoterapia. Nesse sentido, o tratamento tem como objetivo maior restabelecer o equilíbrio e controle sobre atividades que antes eram prazerosas e agora se tornaram aprisionadoras, devolvendo o verdadeiro sentido de liberdade à vida.

Matéria por:
Giovana Jorge Garcia
Psiquiatra | CRM/PR: 24337 | RQE: 17431

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