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SUICÍDIO: ENQUANTO SE IGNORA, MAIS FAMÍLIAS SOFREM

13-06-17

Falar sobre suicídio é tabu para a sociedade. Para preservar vítima e as famílias e até para não “incentivar” a prática, pouco se discute o assunto, que é um problema de saúde e que, por isso, exige atenção, prevenção e tratamento. “Precisamos falar sobre suicídio para a população para fazermos com que a população entenda que existe tratamento para suicídio, e que é possível identificar uma pessoa com tendência a cometer o ato e encaminhá-la para um atendimento médico e psicológico”, afirma o médico psiquiatra Felipe Pinheiro de Figueiredo.

O especialista explica que existe um sentimento na pessoa que está com intenção suicida, que é a ambivalência. “É um sentimento de querer ir e ao mesmo tempo não querer ir. Se a pessoa está com vontade de se matar, mas ainda não o fez, é porque também tem vontade de viver. E é nisso que temos que apoiar”.

A psiquiatria trata o suicídio como um sintoma, que pode estar relacionado com outras patologias mentais, como esquizofrenia, depressão, transtorno afetivo bipolar, ou transtorno desafiador de posição. “Pode ser um sintoma de vários transtornos relacionados aos comportamentos psiquiátricos e até não psiquiátricos. Quem tem problema de tireoide muito grave pode também ter vontade de se matar. Até condições médicas podem levar ao evento do suicídio. Problemas médicos gerais”, salienta. Dr. Felipe destaca que os pacientes com tendência a cometer suicídio dão Indícios antes da primeira tentativa e é possível familiares captá-los: “por exemplo, uma pessoa que está muito para baixo, isolando-se, com comportamento impulsivo, de fazer coisas sem pensar. Quando, por exemplo, a pessoa fala coisas sem muito nexo”, diz, lembrando que 80% a 90% dos indivíduos que tentam suicídio têm alguma doença mental.

Uma vez detectada a tendência, o ideal, segundo o médico, é o acompanhamento permanente do paciente, como em uma doença crônica, com uma visita mensal ao médico, pelo menos nos meses seguintes ao acontecimento. “O médico vai avaliar se precisa de tratamento medicamentoso, se precisa de tratamento com psicoterapia, se precisa de um tratamento familiar, se precisa de um apoio, por exemplo, de uma enfermeira que fique em casa”, explica.

Cuidados com crianças e adolescentes

O psiquiatra Felipe Pinheiro de Figueiredo chama atenção para os casos de tentativa de suicídio em crianças e adolescentes. O médico diz que as ocorrências vêm aumentando e preocupam os profissionais porque, muitas vezes, a criança não tem, sequer, noção do que exatamente é a morte, de que um suicídio não tem volta. “A criança menor não sabe exatamente o que é a morte, mas ela, às vezes, quando está com um processo de depressão, por exemplo, pode querer acabar com aquilo e fazer alguma coisa contra ela mesma. Isso pode ser muito perigoso, porque ela não sabe muito bem que a morte é para sempre. E ela pode ainda fazer isso como uma brincadeira”, diz. “O adolescente também. É característica da adolescência. É normal os adolescentes serem mais impulsivos. E, por conta dessa impulsividade, eles, às vezes, numa situação banal que cause algum sofrimento, como um término de namoro, um desentendimento com os pais, um fracasso escolar, eles tentam o suicídio”, alerta.

Profissionais de saúde no grupo de risco (com informações do CFM)

O alto índice de suicídio entre médicos e estudantes de Medicina tem sido uma preocupação das entidades médicas de todo o mundo. A mé- dica psiquiatra da USP Alexandrina Meleiro, que estuda o fenômeno, cita que estudos internacionais indicam que os médicos se suicidam cinco vezes mais que a população geral. Para ela, entre os principais motivos para a alta taxa de suicídio dos profissionais médicos, estão o acesso a meios mais eficazes de letalidade, o isolamento social, a situação conjugal insatisfatória e a precária situação empregatícia.

Dentro do segmento, a médica destaca que os estudos sugerem que os anestesistas e os psiquiatras são os mais vulneráveis quando o assunto é suicídio. Entre os alunos de Medicina, o grupo de alto risco se concentra naqueles que demonstram melhor performance escolar, são mais exigentes, têm pouca tolerância a falhas, sentem mais culpa pelo que não sabem, ficam paralisados pelo medo de errar, dentre outras características.

Mais de uma morte por minuto

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano em todo o mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, os números também impressionam: segundo o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, foram registrados 11.821 suicídios em 2012, o que representa, em média, 32 mortes por dia.

O Brasil é o quarto país latino-americano com o maior crescimento no número de suicídios entre 2000 e 2012, segundo relatório divulgado na última semana pela OMS. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de 17,8% entre mulheres e 8,2% entre os homens. Chama a atenção o fato de o número de mulheres que tiraram a própria vida ter crescido mais (17, 8%) do que o número de homens (8,2%) no período de 12 anos. A mortalidade de pessoas com idade entre 70 anos ou mais é maior, de acordo com a pesquisa.