Luanda Quadros resolveu contar como foi a sua experiência ao compartilhar o diagnóstico de depressão que havia recebido com seus amigos.
O diagnóstico não me surpreendeu: depressão moderada grave. Se havia meses que eu dormia no máximo uma hora por noite, havia algo errado comigo. Já que identificamos, vamos tratar, por mais que o “grave” no nome da doença soe levemente amedrontador.
O que me surpreendeu foi a reação dos amigos. Sei que há temas tabus, que são colocados de lado porque deixam as pessoas envergonhadas: sexo, religião, política. (Palpite: quando temas tabus vêm à tona, as pessoas não sabem muito bem o que fazer). Para mim, quanto mais se fala de um assunto tabu, melhor.
Não coloquei no Facebook o que o médico me dissera: não acho que minhas centenas de amigos-facebookianos seriam o fórum adequado para uma conversa como essa. Preferi os amigos com quem converso pessoalmente, por Skype ou por WhatsApp. Algumas reações me desnortearam.
Minha memória pode me trair, mas de 30 amigos que me ouviram, eu diria que 15 falaram também estar em depressão (embora não fizessem terapia ou tivessem ido a um psiquiatra; diagnóstico dado por elas mesmas, ainda que nenhuma fosse formada em medicina ou psicologia).
Outros 12 amigos mudaram de assunto. Havia temas mais interessantes, para que perder tempo falando em depressão?
Três conversaram sobre o tema.
Entendo as 27 pessoas que não quiseram conversar comigo. “Ela que se vire, a depressão é dela.” Mas, mesmo assim, elenco o que eu realmente detestei ouvir quando contei que estava em depressão:
“Que chato. Sabe, briguei com meu chefe na semana passada. Tô puto até hoje.”
“Depressão para mim é como gripe. Toma remédio que você melhora.”
“Puxa. Te contei que mudei de emprego? Agora estou entrando às 5h da manhã, acredita?”
“Depressão? É falta de religião.”
“Sou fisioterapeuta, lembra? Te curo da depressão. Curei todos os pacientes de tudo. Os únicos que não curei foram os que não queriam ser curados de verdade.”
Para que não pareça que estou aqui somente para criticar, uma sugestão — que aliás, não se aplica somente a casos como este (usei recentemente com minha melhor amiga, quando soube que ela estava com câncer de intestino):
“Posso te ajudar de alguma maneira?”
* Luanda Quadros é um pseudônimo.
Fonte: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2015/02/03/depoimento-o-que-eu-detestei-ouvir-quando-contei-que-estava-em-depressao.htm