“Doutora, o problema é que eu como demais…”

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Uma das queixas mais comuns que escuto no dia a dia tanto dos atendimentos clínicos como nas conversas em geral, está relacionada a um desequilíbrio na forma de se alimentar. Posso dizer, que se tratando desse assunto, uma das reclamações mais frequentes está associada a um “comer descontrolado, compulsivo” de vários tipos de alimentos, especialmente, daqueles muito calóricos e pouco nutritivos.

Esse desequilíbrio na alimentação acaba gerando inúmeras dificuldades em emagrecer, ganho de peso progressivo e indesejado e, inevitavelmente, sentimentos de baixa autoestima, frustração e culpa. Diante desse tema tão relevante, surgem algumas dúvidas… O que significa compulsão alimentar? É uma doença? Tem causa? Como se trata?

Em primeiro lugar, comer compulsivamente significa ter episódios onde se ingere uma grande quantidade de alimento (muito maior do que a maioria das pessoas ingeriria) em um intervalo relativamente curto de tempo. Nos momentos em que esses episódios acontecem a pessoa não consegue parar de comer, ou seja, perde o autocontrole sob o quê e quanto está comendo.

O “comer compulsivo” se torna uma doença chamada Transtorno de Compulsão Alimentar quando os episódios de compulsão alimentar já são muito frequentes, causando um grande sofrimento para a pessoa que passa por isso. Nesses casos, é comum também encontramos uma sensação desconfortável de estar muito cheio após a ingestão dessa grande quantidade de alimento e surgirem sentimentos de vergonha, isolamento, culpa e tristeza. É importante ressaltar que se os comportamentos de compulsão alimentar forem seguidos de atos de compensação para não ganhar peso, como indução de vômitos, prática de exercícios físicos extenuantes, uso de diuréticos e/ou laxantes, já não estamos falando de Transtorno de Compulsão Alimentar e sim de outro Transtorno Alimentar, a Bulimia Nervosa.

A respeito do que causa esses comportamentos, é muito comum as pessoas descreverem que se descontrolam pois “são ansiosas”. É claro que sabemos, até por nossas vivências próprias, que a ansiedade pode alterar nosso padrão alimentar. Entretanto, a ansiedade não é a causa do Transtorno de Compulsão Alimentar, e sim pode estar em alguns casos ocorrendo conjuntamente. A ansiedade está relacionada a um estado de apreensão e preocupações excessivas de difícil controle acerca de vários aspectos da vida e diretamente nada tem relação com o “comer compulsivo”.

A compulsão alimentar é um problema desencadeado por vários fatores psicológicos, biológicos, ambientais e é um transtorno muito relacionado à obesidade, portanto, uma condição grave tanto para a saúde física como para a mental. A Psiquiatria é uma especialidade médica que, assim como outras áreas relacionadas aos cuidados com a alimentação e o corpo, também se dedica ao cuidado dos Transtornos Alimentares. Inicialmente, o tratamento se inicia buscando detectar a presença de outros problemas orgânicos ou mentais que possam estar sobrepostos ao Transtorno de Compulsão Alimentar, como depressão, ansiedade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade. É importante ressaltar que temos como objetivo maior compreender esse comportamento compulsivo no contexto de cada pessoa, visando promover a retomada do autocontrole, freando o impulso que faz o indivíduo comer dessa forma. Modalidades de tratamento farmacológico e também de psicoterapia, conjuntamente com auxílio nutricional e avaliação de outras especialidades médicas quando necessário, são as ferramentas que podem devolver o equilíbrio e resultar na melhora da qualidade de vida.

MATÉRIA POR
GIOVANA JORGE GARCIA
PSIQUIATRIA
CRM/PR: 24337 | RQE 17431 | MARINGÁ

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