Atitudes Compassivas em tempos de Coronavírus


Neste momento em que somos convidados (decretados?) a uma quarentena, ou seja, a nos mantermos no resguardo de nossas casas, pode surgir um receio mais concreto do isolamento social e, finalmente, uma pergunta:
o que fazer para proteger nossa a saúde mental?

Pensando na pandemia de Coronavírus, devemos seguir todas as precauções necessárias para evitar o contágio, mas também refletir um pouco sobre quais mudanças comportamentais nos foram impostas e quais os recursos que vamos mobilizar para um enfrentamento mais efetivo deste período.

Quando uma situação de crise se instala, as pessoas podem apresentar uma série de reações e sentimentos, incluindo sobrecarga e estresse emocional, confusão, desorientação sobre os acontecimentos, incertezas, pânico, medo, ansiedade, hipersensibilidade ou insensibilidade/entorpecimento, dentre outras.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2015), as pessoas reagem de maneira mais adaptativa ou severa, dependendo de alguns fatores, como:

- A severidade do evento, seu tempo de duração e os impactos que provoca;

- A vivência ou experiência de manejo em relação a uma crise anterior;

- O apoio recebido durante a vida e, mesmo diante da crise atual;

- A idade e o estado de saúde física/emocional da pessoa que enfrenta a crise;

- Os valores, cultura e tradições/costumes de uma sociedade.

Tais fatores devem ser considerados para que as pessoas mais vulneráveis recebam suporte, cuidado, conforto e apoio específicos para suas necessidades, assim, protegendo-as de danos adicionais.

Danos adicionais são aqueles que extrapolam o próprio contágio da doença e acabam por somar-se ao evento ampliando o impacto.

Podemos elencar neste grupo a constante repetição ou o excesso de informações – muitas vezes alarmistas, fatalistas, desencontradas, equivocadas ou falaciosas que culminam na geração de um senso de ameaça invisível e incontrolável. Ainda, diante da necessidade de reclusão e isolamento social, algumas pessoas podem se sentir inseguras, angustiadas, com intenso medo de desenvolverem doenças e serem incapazes de se autoprotegerem, ou seja, vulnerabilizadas emocionalmente e com sensação de estarem extremamente expostas ao risco de contágio.

Neste sentido, a instabilidade de comando das autoridades disponíveis, a ameaça de desemprego, a precariedade de acesso a recursos de saúde e a escassez de orientação qualificada são reais fontes de estresse persistente. Por isso, mantenha-se informado apenas acessando notícias confiáveis e fidedignas (o site da Organização Mundial da Saúde, por exemplo), perseverando-se emocionalmente do excesso de informações, e concretamente estabeleça um plano de segurança (reforço na higiene domiciliar e pessoal, hidratação, proteção de crianças e idosos).

Por isso, é importante validar os próprios recursos, sentimentos e habilidades de enfrentamento, pois todos nós podemos escolher algo saudável – mesmo que não possamos controlar completamente os fatores externos.

Sabemos que olhar o mundo pela janela ou acessá-lo pela tela digital tem sido um pequeno conforto para este tempo de isolamento social que as medidas de controle ao novo coronavírus interpuseram entre nós; mas podemos ir muito além. Este pode ser um tempo para o desenvolvimento deste “olhar para dentro”, como um novo aprendizado sobre o que é essencial. O filósofo Coreano Byung-Chul Han (2017) revela:

Aprender a Ver: Habituar o olho ao descanso, à paciência, ao “deixar-aproximar-se-de-si”, isto é, capacitar o olho a uma atenção profunda e contemplativa, a um olhar demorado e lento.

Para quem prefere um roteiro mais didaticamente prático, o Instituto Vita Alere -SP (2020) organizou um material denominado: “Como proteger sua saúde mental em tempos de coronavírus”. Confira a adaptação de alguns tópicos:

- Cuidar de si mesmo e do que é seu: há várias maneiras de cuidar da saúde do corpo e da mente. Experimente exercícios de respiração, meditação e alongamento. Cuide da alimentação, sono regular, mantenha uma rotina de horários (autocuidado, lazer, trabalho, estudos) mesmo estando em casa. Cuidar de si envolve fazer também algo de que goste, como ler, escutar música, dançar, praticar alguma atividade on line. Aproveite para colocar as coisas em ordem, arrumar a casa, organizar os estudos, cuidar daquilo que é seu!

- Praticar a Resiliência: os momentos de crise sempre tem algo a nos ensinar, podemos extrair muitas reflexões sobre o evento, ou seja, tratando da crise com senso de realidade, mas sem pânico. Outras crises virão, algumas já foram superadas e a cada etapa podemos nos sentir mais experientes e preparados para manejar as ocorrências. Lembre-se que a essência fica!

- Não parar seu tratamento: este momento de confinamento nos exige o remanejamento da rotina e a adaptação das atividades e serviços. Alguns tratamentos serão mantidos on line até o retorno presencial. Não abandone seus remédios, acesse seus profissionais de confiança, mantenha-se em contato.

- Pedir ajuda se precisar: a reclusão social pode gerar inúmeros sentimentos contraditórios. Se você perceber que precisa de ajuda, não hesite em contactar um referencial de segurança.

Lembre-se de que parte da segurança emocional nesta situação de isolamento social por conta do Coronavírus pode ser compreendida de várias maneiras. Podemos entender que estamos sendo obrigados à um sacrifico desumano de confinamento, mas podemos também escolher compreender essa necessidade como um engajamento coletivo em prol à saúde todos.

Esse senso de coletividade, de reconhecimento das necessidades próprias, mas também das alheias, faz com que estejamos integrados, conectados, empáticos e compassivos.

A compaixão é a chave para o autocuidado e o cuidado com o outro – elementos fundamentais para a construção de pertencimento humanitário. Diferentemente de autopiedade, a autocompaixão envolve amorosidade, humanidade compartilhada/conexão e contemplação. É quando respeitamos nossos limites e cuidamos de nós que poderemos, efetivamente, olhar para o outro de maneira a reconhecer também os limites e necessidades alheias.

Talvez a pandemia possa nos ensinar isso.

Dra Giovana Kreuz – CRP 08/07196