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Entenda como a ansiedade dos pais reflete nos filhos

Preocupar-se com o futuro dos filhos é uma ação natural dos pais e mães amorosos que querem sempre o melhor para os seus pequenos (mesmo que eles nem sejam mais tão pequenos assim). Porém, quando essa preocupação se torna tão grande a ponto de gerar muita angústia ou ansiedade nos pais, é hora de rever essa maneira de pensar.

Isso porque a exacerbada ansiedade dos pais pode ser prejudicial ao desenvolvimento infantil. Muitos acham essa ansiedade normal e, além disso, os pais podem ter uma impressão de que seus filhos não percebem o que eles pensam e sentem. Esses são dois equívocos. No artigo de hoje vamos falar como essa ansiedade descontrolada age negativamente nas crianças e como lidar com ela. Acompanhe!

Ansiedade dos pais: prejuízo também para os filhos

A ansiedade é um sentimento inerente aos pais, principalmente aqueles preocupados com o bom desenvolvimento e futuro dos seus filhos nesse mundo agitado em que vivemos. Contudo, quando essa preocupação se torna aflitiva e incontrolável, deixa de afetar somente os pais.

O resultado são crianças cada vez mais novas vivenciando sintomas de de ansiedade, alguns até graves, que prejudicam não só o seu desenvolvimento como também seu bem-estar físico e emocional.

Mas, afinal, como esse sentimento dos pais acabam por chegar aos filhos?

O psicólogo norte-americano e escritor especialista em parentalidade, John Rosemond tem uma teoria interessante sobre o intercâmbio da ansiedade dos pais para os filhos: ele acredita que esse excesso de preocupação (que gera a ansiedade) é transmitido via osmose psíquica para os filhos que, uma vez contagiados pelo sentimento passam a conviver de maneira desajustada com uma série de medos existenciais.

Segundo o escritor, essas crianças começam a sentir e acreditar que o mundo não é um lugar seguro para viverem e que ninguém, nem mesmo os seus pais, serão capazes de protegê-los dos “perigosos” da vida.

E se engana quem acha que somente as crianças sofrem com os pensamentos/emoções/sentimentos dos pais. Os maiores também não escapam dos prejuízos, principalmente quando o foco da ansiedade paterna são suas expectativas com relação ao futuro acadêmico e profissional.

Diante das expectativas de verem seus filhos cursando faculdades e buscando profissões de prestígio, que são vistas como financeiramente promissoras, os filhos adolescentes se vêem perdidos e aflitos. Sigo o que meus pais desejam para mim ou o que eu desejo? E se eu fracassar? E se não atender às expectativas deles? Esses são pensamentos que passam na cabeça dos jovens, e que podem atrapalhar nesse momento tão delicado de escolhas, influenciando inclusive seu rendimento escolar.

Como evitar a ansiedade dos pais?

Mais do que compreender seus papéis de pais, mães e responsáveis, é preciso entender que privar os filhos das dificuldades e dos desafios, bem como expressar demasiadamente seus medos e ansiedade pode ser prejudicial para o desenvolvimento social e emocional deles. A questão aqui não é se fechar para os filhos, mas sim compreender a necessidade de gestão dos próprios pensamentos e emoções para não gerar ansiedade desnecessária (além do que a vida moderna já causa) nos filhos.

Evitar depositar muitas expectativas também é recomendado, pois cada ser humano é único e tem o direito fundamental de se expressar e viver como se é de verdade. Afinal, filho nenhum gostaria de ser responsável pela não concretização de um sonho materno ou paterno, não é mesmo? Se sentir obrigado a seguir um sonho ou uma história que não foi sonhada e desejada por você é algo frustrante.

Por fim, é fundamental ainda que os pais – principalmente os do século XXI – aprendam a lidar com o ciclo natural das coisas, aceitando o seu tempo de evolução e os resultados que nem sempre são os que eles esperam.

Ocupar-se do presente é indispensável para que a ansiedade dos pais seja administrada e o futuro, no seu tempo, possa chegar com qualidade e saúde emocional para toda a família.

(Fonte: https://escoladainteligencia.com.br/entenda-como-a-ansiedade-dos-pais-reflete-nos-filhos/)

“Pais-helicóptero” estão criando filhos simplesmente “inempregáveis”

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Pais-helicóptero’ são os pais que estão sempre girando em torno dos filhos. Praticamente os embrulham em plástico-bolha, criando uma corte de jovens adultos que têm dificuldade de ter um desempenho satisfatório no trabalho e em suas vidas.

‘Pais-helicóptero’ pensam que estão fazendo o melhor, mas, na verdade, estão prejudicando as chances de sucesso dos filhos. Em particular, estão arruinando as chances de que os filhos consigam um emprego e consigam mantê-lo.

‘Pais-helicóptero’ não querem que seus filhos se machuquem. Querem suavizar cada golpe e amortecer cada queda. O problema é que essas crianças superprotegidas nunca aprendem como lidar com a perda, com o fracasso ou com o desapontamento — aspectos inevitáveis da vida de todos.

A superproteção torna quase impossível que esses jovens desenvolvam a tolerância em relação à frustração. Sem esse importante atributo psicológico, os jovens entram na força de trabalho em grande desvantagem.

‘Pais-helicóptero’ fazem coisas demais pelos filhos, portanto, essas crianças crescem sem uma ética de trabalho saudável e sem habilidades básicas. Sem essa ética de trabalho e habilidades necessárias, o jovem não será capaz de realizar muitas das tarefas exigidas pelo local de trabalho.

‘Pais-helicóptero’ superprotegem seus filhos e os privam de qualquer consequência significativa por suas ações. Com isso, eles perdem a oportunidade de aprender lições de vida valiosas a partir dos erros que cometem; as lições de vida que iriam contribuir para sua inteligência emocional.

‘Pais-helicóptero’ protegem suas crianças de qualquer conflito que possam ter com seus colegas. Quando essas crianças crescem, não sabem como resolver dificuldades entre eles e um colega ou supervisor.

As pessoas resolvem problemas tentando coisas, cometendo erros, aprendendo e tentando novamente. Esse processo cria confiança, competência e autoestima. ‘Pais-helicóptero’ impedem que seus filhos desenvolvam todos esses importantes atributos que são necessários para uma carreira de sucesso.

‘Pais-helicóptero’ pensam que seus filhos devem vencer qualquer coisa. Todo mundo que participe de um evento esportivo deve ganhar um troféu. Todos devem conseguir uma nota de aprovação, mesmo que sua tarefa esteja atrasada ou malfeita.

Em um local de trabalho funcional, há apenas um vencedor de uma competição, e apenas um trabalho de alta qualidade é recompensado. Se as crianças crescem pensando que independentemente do que façam irão vencer, não perceberão que, na verdade, têm de trabalhar duro para conseguir ter sucesso.

Esses jovens mimados ficarão arrasados quando continuarem perdendo competições, se saindo mal em entrevistas ou sendo demitidos de seus empregos. Não entenderão quanto esforço é realmente necessário para ser um vencedor no mundo do trabalho.

Esses jovens carecem de competência e ação por nunca terem tido de resolver um problema ou completar um projeto sozinhos. Esperam que outros façam essas coisas para eles, assim como seus pais sempre fizeram. Em essência, não podem pensar ou agir por si mesmos.

A criação-helicóptero inculca uma série de atitudes negativas nas crianças. Elas crescem com grandes expectativas de sucesso, independentemente de quanto tempo ou energia investem, e sentem que merecem tratamento preferencial — sendo que nenhum dos dois comportamentos cai bem com seus colegas ou chefes.

Em uma entrevista de emprego, os futuros empregadores podem ser dissuadidos pela atitude excessivamente egocêntrica de um jovem ou alarmados por sua falta de habilidades básicas.

A aura de ignorância e incompetência de um jovem, combinada com expectativas de recompensas imediatas e substanciais sem relação com o desempenho, pode ser o beijo da morte em qualquer entrevista para um bom emprego.

Quando os pais decidem acompanhar seu filho de 20 e poucos anos em uma entrevista de emprego, isso mina qualquer confiança que um empregador possa ter nesse funcionário em potencial. “Por que – os empregadores podem se perguntar – alguém procurando emprego precisaria trazer a mamãe ou o papai na entrevista, a menos que esse jovem seja mais uma criança do que um adulto?”

Mesmo de pequenas maneiras, os ‘pais-helicóptero’ paralisam seus filhos. A criança adulta de ‘pais-helicóptero’ vai fazer sua pausa para o café e então sair da copa sem ter limpado sua sujeira ou lavado sua xícara. Podemos imaginar como isso causará ressentimento entre seus colegas.

Esses jovens esperam que “alguém” limpe sua coisas, da mesma forma que sua sujeira foi sempre limpada quando eram crianças. Não percebem que já não há ninguém os seguindo, limpando sua sujeira, seja física, interpessoal ou profissional.

Barb Nefer, em um artigo publicado no site WebPsychology, diz que a geração do “milênio está sendo fortemente atingida pela depressão no trabalho. Um em cada cinco trabalhadores [20%] já sofreu de depressão no trabalho, comparado a 16% da Geração X [nascidos entre 1960 e final dos anos 70] e dos ‘baby boomers’ [nascidos entre 1943 e 1960]”.

Nefer destaca que, de acordo com um “‘white paper’ da Bensinger, DuPont & Associates, os ‘millennials’ têm desempenho inferior no trabalho e índices mais altos de absenteísmo, bem como mais conflitos e incidentes de advertência por escrito”, fatores que “podem afetar o desempenho no trabalho”.

De acordo com um artigo de Brooke Donatone publicado pelo Washington Post, uma nota de 2013 na revista “Journal of Child and Family Studies revelou que universitários que tiveram criação-helicóptero relataram níveis mais altos de depressão”.

O artigo do Washington Post também destaca que uma “criação intrusiva interfere no desenvolvimento da autonomia e da competência. Por isso, a criação-helicóptero leva a uma maior dependência e menor habilidade de completar tarefas sem supervisão dos pais”.

Às vezes, a melhor forma de ‘estar presente’ na vida dos filhos é não estar. Os artigos acima deixam claro que a ‘criação-helicóptero’ está contribuindo para um crescente índice de depressão entre jovens bem como para uma incapacidade de ter um desempenho otimizado no local de trabalho.

Se você é um pai ou uma mãe que quer que seus filhos sejam bem-sucedidos na carreira quando adultos, precisa estar ciente de quaisquer tendências relacionadas à criação-helicóptero em você ou em seu parceiro.

Amar seus filhos significa guiá-los, protegê-los e apoiá-los. Não significa sufocá-los, superprotegê-los ou fazer tanto por eles que nunca aprendam a pensar por si mesmos, a lidar com desafios ou com o desapontamento e fracasso.

A coisa mais amorosa que você pode fazer como pai ou mãe é dar um passo atrás e deixar seu filho cair, se preocupar e resolver as coisas sozinho. Às vezes, a melhor forma de “estar presente” na vida de seu filho é não estar. É assim que você os capacita a desenvolver confiança, competência, autoestima e inteligência emocional.

Hoje os jovens precisam de pais que os ajudem a se tornar adultos úteis. Isso significa girar menos em torno deles e embrulhá-los menos em plástico-bolha e empoderá-los mais para que façam coisas por si mesmos, resolvam coisas por si mesmos e aprendam a lidar com as dificuldades, tudo por si mesmos.

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost Canada e traduzido do inglês.

(Fonte: https://pt.aleteia.org/2017/08/15/pais-helicoptero-estao-criando-filhos-simplesmente-inempregaveis/ )

“Doutora, o problema é que eu como demais…”

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Uma das queixas mais comuns que escuto no dia a dia tanto dos atendimentos clínicos como nas conversas em geral, está relacionada a um desequilíbrio na forma de se alimentar. Posso dizer, que se tratando desse assunto, uma das reclamações mais frequentes está associada a um “comer descontrolado, compulsivo” de vários tipos de alimentos, especialmente, daqueles muito calóricos e pouco nutritivos.

Esse desequilíbrio na alimentação acaba gerando inúmeras dificuldades em emagrecer, ganho de peso progressivo e indesejado e, inevitavelmente, sentimentos de baixa autoestima, frustração e culpa. Diante desse tema tão relevante, surgem algumas dúvidas… O que significa compulsão alimentar? É uma doença? Tem causa? Como se trata?

Em primeiro lugar, comer compulsivamente significa ter episódios onde se ingere uma grande quantidade de alimento (muito maior do que a maioria das pessoas ingeriria) em um intervalo relativamente curto de tempo. Nos momentos em que esses episódios acontecem a pessoa não consegue parar de comer, ou seja, perde o autocontrole sob o quê e quanto está comendo.

O “comer compulsivo” se torna uma doença chamada Transtorno de Compulsão Alimentar quando os episódios de compulsão alimentar já são muito frequentes, causando um grande sofrimento para a pessoa que passa por isso. Nesses casos, é comum também encontramos uma sensação desconfortável de estar muito cheio após a ingestão dessa grande quantidade de alimento e surgirem sentimentos de vergonha, isolamento, culpa e tristeza. É importante ressaltar que se os comportamentos de compulsão alimentar forem seguidos de atos de compensação para não ganhar peso, como indução de vômitos, prática de exercícios físicos extenuantes, uso de diuréticos e/ou laxantes, já não estamos falando de Transtorno de Compulsão Alimentar e sim de outro Transtorno Alimentar, a Bulimia Nervosa.

A respeito do que causa esses comportamentos, é muito comum as pessoas descreverem que se descontrolam pois “são ansiosas”. É claro que sabemos, até por nossas vivências próprias, que a ansiedade pode alterar nosso padrão alimentar. Entretanto, a ansiedade não é a causa do Transtorno de Compulsão Alimentar, e sim pode estar em alguns casos ocorrendo conjuntamente. A ansiedade está relacionada a um estado de apreensão e preocupações excessivas de difícil controle acerca de vários aspectos da vida e diretamente nada tem relação com o “comer compulsivo”.

A compulsão alimentar é um problema desencadeado por vários fatores psicológicos, biológicos, ambientais e é um transtorno muito relacionado à obesidade, portanto, uma condição grave tanto para a saúde física como para a mental. A Psiquiatria é uma especialidade médica que, assim como outras áreas relacionadas aos cuidados com a alimentação e o corpo, também se dedica ao cuidado dos Transtornos Alimentares. Inicialmente, o tratamento se inicia buscando detectar a presença de outros problemas orgânicos ou mentais que possam estar sobrepostos ao Transtorno de Compulsão Alimentar, como depressão, ansiedade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade. É importante ressaltar que temos como objetivo maior compreender esse comportamento compulsivo no contexto de cada pessoa, visando promover a retomada do autocontrole, freando o impulso que faz o indivíduo comer dessa forma. Modalidades de tratamento farmacológico e também de psicoterapia, conjuntamente com auxílio nutricional e avaliação de outras especialidades médicas quando necessário, são as ferramentas que podem devolver o equilíbrio e resultar na melhora da qualidade de vida.

MATÉRIA POR
GIOVANA JORGE GARCIA
PSIQUIATRIA
CRM/PR: 24337 | RQE 17431 | MARINGÁ

SUICÍDIO: ENQUANTO SE IGNORA, MAIS FAMÍLIAS SOFREM

13-06-17

Falar sobre suicídio é tabu para a sociedade. Para preservar vítima e as famílias e até para não “incentivar” a prática, pouco se discute o assunto, que é um problema de saúde e que, por isso, exige atenção, prevenção e tratamento. “Precisamos falar sobre suicídio para a população para fazermos com que a população entenda que existe tratamento para suicídio, e que é possível identificar uma pessoa com tendência a cometer o ato e encaminhá-la para um atendimento médico e psicológico”, afirma o médico psiquiatra Felipe Pinheiro de Figueiredo.

O especialista explica que existe um sentimento na pessoa que está com intenção suicida, que é a ambivalência. “É um sentimento de querer ir e ao mesmo tempo não querer ir. Se a pessoa está com vontade de se matar, mas ainda não o fez, é porque também tem vontade de viver. E é nisso que temos que apoiar”.

A psiquiatria trata o suicídio como um sintoma, que pode estar relacionado com outras patologias mentais, como esquizofrenia, depressão, transtorno afetivo bipolar, ou transtorno desafiador de posição. “Pode ser um sintoma de vários transtornos relacionados aos comportamentos psiquiátricos e até não psiquiátricos. Quem tem problema de tireoide muito grave pode também ter vontade de se matar. Até condições médicas podem levar ao evento do suicídio. Problemas médicos gerais”, salienta. Dr. Felipe destaca que os pacientes com tendência a cometer suicídio dão Indícios antes da primeira tentativa e é possível familiares captá-los: “por exemplo, uma pessoa que está muito para baixo, isolando-se, com comportamento impulsivo, de fazer coisas sem pensar. Quando, por exemplo, a pessoa fala coisas sem muito nexo”, diz, lembrando que 80% a 90% dos indivíduos que tentam suicídio têm alguma doença mental.

Uma vez detectada a tendência, o ideal, segundo o médico, é o acompanhamento permanente do paciente, como em uma doença crônica, com uma visita mensal ao médico, pelo menos nos meses seguintes ao acontecimento. “O médico vai avaliar se precisa de tratamento medicamentoso, se precisa de tratamento com psicoterapia, se precisa de um tratamento familiar, se precisa de um apoio, por exemplo, de uma enfermeira que fique em casa”, explica.

Cuidados com crianças e adolescentes

O psiquiatra Felipe Pinheiro de Figueiredo chama atenção para os casos de tentativa de suicídio em crianças e adolescentes. O médico diz que as ocorrências vêm aumentando e preocupam os profissionais porque, muitas vezes, a criança não tem, sequer, noção do que exatamente é a morte, de que um suicídio não tem volta. “A criança menor não sabe exatamente o que é a morte, mas ela, às vezes, quando está com um processo de depressão, por exemplo, pode querer acabar com aquilo e fazer alguma coisa contra ela mesma. Isso pode ser muito perigoso, porque ela não sabe muito bem que a morte é para sempre. E ela pode ainda fazer isso como uma brincadeira”, diz. “O adolescente também. É característica da adolescência. É normal os adolescentes serem mais impulsivos. E, por conta dessa impulsividade, eles, às vezes, numa situação banal que cause algum sofrimento, como um término de namoro, um desentendimento com os pais, um fracasso escolar, eles tentam o suicídio”, alerta.

Profissionais de saúde no grupo de risco (com informações do CFM)

O alto índice de suicídio entre médicos e estudantes de Medicina tem sido uma preocupação das entidades médicas de todo o mundo. A mé- dica psiquiatra da USP Alexandrina Meleiro, que estuda o fenômeno, cita que estudos internacionais indicam que os médicos se suicidam cinco vezes mais que a população geral. Para ela, entre os principais motivos para a alta taxa de suicídio dos profissionais médicos, estão o acesso a meios mais eficazes de letalidade, o isolamento social, a situação conjugal insatisfatória e a precária situação empregatícia.

Dentro do segmento, a médica destaca que os estudos sugerem que os anestesistas e os psiquiatras são os mais vulneráveis quando o assunto é suicídio. Entre os alunos de Medicina, o grupo de alto risco se concentra naqueles que demonstram melhor performance escolar, são mais exigentes, têm pouca tolerância a falhas, sentem mais culpa pelo que não sabem, ficam paralisados pelo medo de errar, dentre outras características.

Mais de uma morte por minuto

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano em todo o mundo, o que equivale a uma morte a cada 40 segundos. No Brasil, os números também impressionam: segundo o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, foram registrados 11.821 suicídios em 2012, o que representa, em média, 32 mortes por dia.

O Brasil é o quarto país latino-americano com o maior crescimento no número de suicídios entre 2000 e 2012, segundo relatório divulgado na última semana pela OMS. Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de 17,8% entre mulheres e 8,2% entre os homens. Chama a atenção o fato de o número de mulheres que tiraram a própria vida ter crescido mais (17, 8%) do que o número de homens (8,2%) no período de 12 anos. A mortalidade de pessoas com idade entre 70 anos ou mais é maior, de acordo com a pesquisa.

DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES : Paciente com esquizofrenia altera pensamentos reais e fantasia

05-06-17

Um dos transtornos psiquiátricos mais graves, que atinge cerca de 1% da população e que, se não tratado, pode incapacitar a pessoa, é a esquizofrenia, uma doença crônica, caracterizada por uma alteração nos pensamentos, com delírios e alucinações. O conceito popular (e preconceituoso) de loucura é baseado na sintomatologia do paciente esquizofrênico.

“A pessoa começa a acreditar em coisas que não estão acontecendo. Por exemplo, achar que está sendo perseguido, que há pessoas o observando. Também podem acontecer alterações da percepção, por exemplo, ouvir vozes que ninguém mais escuta, ver vultos que ninguém está vendo. Pode acontecer também uma alteração do comportamento: a pessoa pode ficar mais agressiva, mais agitada. Ela pode ficar mais isolada, mais retraída, então ela muda o jeito que ela se relaciona e a maneira como, às vezes, percebe o mundo. O contato com a realidade é prejudicado”, explica a médica psiquiatra Giovana Garcia. Incurável e com causa ainda desconhecida, a esquizofrenia é tratável e, em cerca de dois terços dos casos, o uso contínuo de medicamentos é capaz de evitar crises agudas da doença. “Uma das hipóteses mais fortes é da alteração da dopamina e do glutamato, que são neurotransmissores do cérebro, mas são ainda hipóteses que precisam de comprovação científica mais clara.

E também  existem alguns estudos mostrando que o cérebro do esquizofrênico funciona de uma maneira diferente. Áreas que eram para ser mais ativadas são menos ativadas, o que significa que também existe um componente de imagem”, diz, citando que uma das relações já comprovadas pelas pesquisas é que o uso de drogas, principalmente essa droga, aumenta muito a chance de uma pessoa desenvolver esquizofrenia, porque a maconha atua em regiões cerebrais envolvidas na esquizofrenia. Assim como os demais transtornos psiquiátricos, o diagnóstico da esquizofrenia é clínico, através do relato do paciente e de familiares e da observação do médico. “Nossa primeira ação, ao receber um paciente após um primeiro surto é excluir o uso de substâncias que possam ter esse efeito colateral ou uma doença orgânica, como tumor cerebral. Para isso, até pode-se pedir um exame de imagem, para descartar essa hipótese. Mas, para diagnosticar a esquizofrenia, não existe outro método que não seja uma consulta com o especialista”, afirma Drª. Giovana.

A médica relata que o período típico de manifestação da doença é na juventude, no final da adolescência e início da vida adulta. “É uma fase muito transmutativa para as pessoas. E é por isso que a esquizofrenia fica tão incapacitante porque se a pessoa não consegue tratamento, ou se a doença é muito grave a ponto de o paciente não responder de uma maneira boa aos medicamentos, ela não estuda, ela não casa, ela não trabalha”, diz.

No tratamento da doença, ela destaca a necessidade de se aliar a abordagem medicamentosa com o uso de antipsicóticos à abordagem psicossocial. “O paciente precisa participar de grupos e haver uma psicoterapia para tentar ajudá-lo a entender a doença. Grupo de família, porque os pais e a família precisam entender. Às vezes, o paciente diz que está escutando uma morto falando com ele. O familiar não entende que aquilo não é inventado. O cérebro produz a voz mesmo! Assim, quanto mais está orientada mais pode ajudar o paciente”, ilustra.

Em alguns casos de maior risco, explica a psiquiatra, o internamento do paciente é necessário. “Internamos se o paciente está agressivo com ele mesmo ou com pessoas próximas; se ele tem um risco de suicídio ou homicídio; se ele não está conseguindo se cuidar sozinho (por exemplo, não consegue tomar banho) ou se alimentar. Se ele não consegue, nem a família, garantir o uso da medicação, às vezes precisamos interná- -lo para fazê-lo tomar o remédio. Um outro caso em que costumamos também hospitalizar é quando, às vezes, o quadro nem é tão grave, mas não existe suporte, não há quem responda pela pessoa”, diz. “Mas o ideal é que a internação pode ser breve. Não pode ser uma internação prolongada. É preciso controlar um pouco os sintomas para que o paciente consiga voltar para casa”, acrescenta.

Família tem que estar preparada e bem informada

A família do paciente tem papel fundamental no tratamento da esquizofrenia. E o primeiro passo é compreender a doença. “Porque quando os familiares não entendem, muitas vezes ficam argumentando e discutindo com o paciente. Mas quando o paciente, está com esse pensamento, com essas sensações, não adianta argumentar; é preciso tratar. Não adianta dizer que não há ninguém que o esteja perseguindo, que não está acontecendo nada. Orientar a família a reconhecer que, quando começa a aparecer o sintoma, o melhor é procurar ajuda a garantir a tomada da medicação é o que mais ajuda”, explica a Drª. Giovana Garcia.

“Quando o paciente está apresentando o sintoma, é preciso tentar entender o que está acontecendo e o que o paciente está sentindo e tentar já encaminhá-lo para um atendimento. Não precisa ficar tentando argumentar com o paciente porque ele não vai aceitar a argumentação”, reforça a médica, instruindo que, ao ouvir queixas de um esquizofrênico, o familiar pode perguntar o que ele está escutando, quem o está perseguindo, mostrar estar compreendendo para que ele se sinta confiante. “Isso aumenta a chance de você conseguir levá-lo para um tratamento”, diz.

Para os pacientes com comprometimento maior, a médica orienta a família a dar a eles o maior grau de independência possível, dentro dos limites de cada caso. “Que possa, por exemplo, aprender a lidar sozinho com dinheiro, a cuidar das coisas dele, ajudando em casa, participando de grupos como igreja, exercício físico, grupos de terapia. Por mais que, às vezes, o indivíduo não consiga trabalhar, casar e ter uma vida ativa, que ele possa ser, dentro das atribuições da vida dele, maximamente independente”, diz.

A médica finaliza dizendo que a doença atinge igualmente homens e mulheres e que pode ser causada por alterações desde o desenvolvimento cerebral, mas que só se manifestam no final da adolescência. “É um tema muito estudado, pois é crescente o número de evidências, o que tem permitido se tentar desenvolver novos tratamentos, por isso é importante o familiar saber que há um movimento da ciência para tentar avançar em relação à doença”.

Hoje, caso presencie uma pessoa em surto psicótico, o cidadão deve levá-la ao Caps – Centro de Atenção Psicossocial de sua cidade, ou, nos municípios onde não existir Caps, à unidade básica de saúde, pois os médicos da atenção primária estão aptos a avaliar os casos e fazer o correto encaminhamento.

“Não consigo me concentrar…”

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A queixa de dificuldade de concentração tem se tornado muito comum entres os adultos, principalmente naqueles envolvidos em períodos de maiores exigências acadêmicas. É frequente encontrarmos relatos como: “não consigo ficar sentado por muito tempo, meu pensamento se distrai facilmente, minha memória não fixa o que leio, adio muito as atividades que preciso fazer”. Indiscutivelmente, essas são queixas importantes e que devem ser entendidas e avaliadas dentro do contexto da vida de cada um. Porém, infelizmente, o que vemos é a tentativa de contornar esses problemas com o aumento indiscriminado do comportamento de automedicação, se utilizando de drogas psicoestimulantes aparentemente capazes de aumentar a concentração, e tendo como nosso maior exemplo a famosa ritalina®. 

O uso de psicoestimulantes na psiquiatria é uma realidade e um recurso muito eficaz para o tratamento de um transtorno muito conhecido, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou mais popularmente conhecido como TDAH. O problema está em muitos adultos acreditarem que são portadores dessa doença e atribuírem os seus sintomas a ela.O TDAH é uma doença que pode afetar a população adulta e o seu tratamento, com psicoestimulantes e/ou outras modalidades, como a psicoterapia, torna-se necessário. Entretanto, esse é um transtorno que não se inicia na vida adulta e também não é comum nessa fase da vida. Inicia-se sempre na infância e acompanha o indivíduo ao longo dos anos. É comum na idade pré-escolar predominarem os sintomas de hiperatividade/agitação e, ao longo da vida escolar, início da adolescência e vida adulta, predominarem problemas como a desatenção e impulsividade. Adultos portadores de TDAH sofrem intensamente com a procrastinação, a desorganização, o mau aproveitamento do tempo disponível para as tarefas, dificuldade de terminar tarefas longas e trabalhosas, envolvimentos com o uso de substâncias psicoativas e podem ter prejuízos na vida pessoal e profissional.

Assim, frente a essa queixa comum envolvendo a concentração, uma avaliação psiquiátrica torna-se necessária, uma vez que esse sintoma não é sinônimo de TDAH.

Muitos outros problemas podem estar desencadeando essa dificuldade e precisam ser avaliados, como o estresse, a ansiedade, problemas no sono, alterações hormonais, depressão, algumas alterações neurológicas, entre outros.

Ao contrário do que muitos pensam, o médico psiquiatra não deve ser procurado apenas em casos de depressão, ansiedade e bipolaridade.

A Psiquiatria é a especialidade que lida com todas as formas de comportamento humano (inclusive com a dificuldade de concentração), levando em consideração aspectos biológicos, psicológicos e ambientais. A automedicação, com o uso de psicoestimulantes, parece ser uma solução imediata atraente, no entanto, apenas adia a detecção precisa e o tratamento adequado, quando necessário, do real problema que está causando os sintomas.

Dra. Giovana Jorge Garcia
Médica Psiquiatra
CRM-PR: 24337/RQE:17431

Adolescente desafiador: Um problema médico no qual a família precisa ser olhada.

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Então seu filho não é mais uma criança. De repente, ele adolesceu! Para muitos pais este momento só é reconhecido após uma discussão, um bate-boca, um surto de agressividade. Dentro do desenvolvimento psíquico normal, a adolescência é o momento onde a criança passa a não mais ser “dos pais”, preparando-se para ser “de si”. Por isso, surgem alguns conflitos com os pais e com a família. Em síntese, o objetivo final da adolescência é o distanciamento dos pais. Para isso, é preciso contrapor e encontrar o seu jeito.Apesar desses conflitos naturais e saudáveis para o desenvolvimento, a adolescência não precisa instaurar na família um estado de guerra, dividindo os integrantes e colocando pessoas em berlindas. Além disso, as contraposições às regras e aos limites colocados por adultos não devem ser tão intensas, nem tão frequentes, durando meses. Também não devem atrapalhar o funcionamento esperado do mesmo, seja na escola, na família, com os amigos e parentes. Uma boa medida para esta intensidade dita patológica são os demais adolescentes da mesma idade e condição de vida. Nos casos em que isso acontece, é preciso ação para busca de ajuda: você pode estar diante daquilo que a Medicina e a Psicologia chamam de Transtorno Desafiador – Opositor (TDO).

Preferencialmente, a busca de ajuda para o TDO deve então iniciar no consultório de um médico especializado em comportamento humano: o Psiquiatra. Diferentes causas neurobiológicas, psicológicas e sociais se mesclam em diferentes intensidades, levando a este fim comum. Há que se perceber quais são estas e por onde começar a agir. Transtornos depressivos, bipolares, de déficit de atenção e hiperatividade podem estar na raiz do problema, devendo ser tratado com os melhores arsenais terapêuticos. O Transtorno de conduta pode estar a caminho, afinal, é uma constante complicação do TDO. Assim, deve-se tomar uma atitude intensiva de tratamento.

Apesar desses possíveis caminhos de tratamento, deve-se perceber que, psicologicamente, o TDO é, no fim, um problema da relação familiar, apesar de a origem estar no sujeito adolescendo. Assim, toda a família precisa ser cuidada, e o adolescente não pode (nem deve) ser acusado, sendo levado à consulta com o Psiquiatra como uma punição para o que está acontecendo com a família. Neste sentido, tanto os pais quanto o adolescente devem procurar esta ajuda. Os pais devem se colocar no problema, e não sair dele. Só assim, o adolescente voltará a ver sentido em ser ajudado.

MATÉRIA POR:
FELIPE P. DE FIGUEIREDO
PSIQUIATRIA
CRM/PR: 31918 RQE 17208 | RQE: 17215 | MARINGÁ

 

 

Adolescência: momento singular para a vida.

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Quer saber sobre o futuro de uma sociedade? Olhe para os adolescentes. Isto mesmo. Não há momento mais fluido e repleto de alterações que a adolescência. E o adolescente, por ser um quadro branco que espelha o seu ambiente, é o retrato mais fiel de uma sociedade futura.

Proveniente do latim, adolescere significa crescer. Estamos aí falando não só do desenvolvimeto físico; estamos falando de desenvolvimento de atributos e interesses sexuais, modificações da forma de entender o mundo e o seu papel dentro dele. A Adolescência é o momento de encontro consigo mesmo. O momento onde a criança passa a não mais ser “dos pais”, preparando-se para ser “de si”.

Antes disso, no entanto, muitas são as “crises”, as idas e vindas. Adolescer é ter crises. E isto é normal. Mais que isso; isto é saudável. Pasmem. De uma admiração para com os pais, o adolescente passa a admirar os amigos; passa a adquirir hábitos provenientes de outras famílias, questionando-se sobre suas atitudes, direitos e deveres. E assim vai tentando se encontrar e esboçando sua própria imagem…

Existem pais que não suportam ver este distanciamento. Que é difícil, sem dúvida o é. Perceber aquela criança, miniatura de si, individualizando-se e modificando-se em direção a outros, é, sem dúvida, tarefa Hercúlea com a qual os pais precisam se deparar.

Neste momento, as buscas por ajudas médicas fazem muitas vezes parte do arsenal com o qual os pais tentam lidar com estas dificuldades. Com todas estas crises e com todas estas lutas, o fato é que a adolescência é o momento da vida no qual as principais psicopatologias se desenvolvem: depressão, ansiedade social, medos excessivos, manias, problemas alimentares, anorexia, transtorno bipolar, uso de drogas e diversas formas de comportamentos delinqu??entes, impulsivos e de risco… A lista é muito grande. O profissional médico, responsável por detectar se há anormalidades no desenvolvimento adolescente ou nas dinâmicas familiares, deve se posicionar ao detectar a existência de sintomas como estes, visando impedir o aparecimento de problemas mais sérios e crônicos na vida adulta. Muitas vezes, esta intervenção dirige-se, também, à postura dos pais, não aceitadores deste processo natural do adolescer. Neste caso, o melhor a fazer é assistir o desenrolar dos crescimentos: do adolescente e dos pais.

É neste processo de mudanças das famílias e de si, que o jovem vai testando diferentes grupos e tribos; hipotetisa, experimenta, conclui e toma novas decisões. Ao final, somando a bagagem psíquica de seus pais com aquilo que aprendeu com a sociedade, o adolescente vira adulto. Dono de si. Protagonista do mundo.

Matéria por:
FELIPE PINHEIRO DE FIGUEIREDO
Psiquiatra - CRM/PR 31918 | RQE 17208 | Maringá

GIOVANA GARCIA
Psiquiatra - CRM/PR 24337 | RQE 17431 | Maringá

Falando sobre compulsões

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Nos dias de hoje, as compulsões têm se tornado assunto cada vez mais comuns entre todos nós. Diante da rotina exigente, da sobrecarga no trabalho e em casa, das preocupações frequentes e de todos os aspectos que envolvem a vida na sociedade moderna, estamos sendo atraídos para atividades que possam nos gerar prazer imediato e trazer uma sensação de alívio momentâneo da tensão e da angústia. Dentre essas atividades estão os atos de comprar, comer, praticar exercícios físicos, o uso da internet, o sexo e os jogos eletrônicos e de azar.

Todas essas atividades, dependendo da individualidade de cada um de nós, podem ser extremamente prazerosas e não há problemas em tê-las como “válvulas de escape” em alguns momentos de nossas vidas. O que se torna um problema é quando passamos a utilizá-las para obtenção de prazer rápido, imediato e alívio de sentimentos ruins, de forma repetida, impulsiva, não planejada e sem avaliação das consequências a médio e longo prazo. Nesse momento, transformam-se em compulsões. Assim, um comportamento que era normal e saudável passa a se transformar em uma doença, pois se torna irresistível e assume o controle do indivíduo. Ao invés da liberdade tão saudável e necessária de realizar uma atividade prazerosa, passamos a ser aprisionados por comportamentos automáticos que geram muito prejuízo e sofrimento.

Nesse cenário, a compulsão por compras tem se tornado um problema cada vez mais relevante. Na tentativa de lidar com sofrimentos, perdas, frustrações e até com o estresse diário, nos entregamos a impulsos de nos aliviar obtendo objetos novos e, muitas vezes, até desnecessários naquele momento. Já em relação aos episódios de comer de forma compulsiva, um dos comportamentos mais comuns é aquele que busca no ato de se alimentar de maneira abundante, rápida e com alimentos muito prazerosos, o alívio dos pensamentos, a recompensa pelos problemas e o preenchimento de vazios e angústias. Momentaneamente, isso parece funcionar mas, logo os problemas se mostram ainda mais presentes juntamente com a culpa de ter se entregando novamente à compulsão.

Não menos importante, temos os comportamentos compulsivos no uso da internet, smartphones, redes sociais e jogos eletrônicos, os novos amigos íntimos e inseparáveis da maior parte da população. Todas essas atividades, quando realizadas de forma excessiva, acabam perdendo suas principais funções de facilitadoras da vida moderna, nos afastando do mundo real. A procura intensa por sexo, pelo corpo perfeito através da prática de exercícios físicos extenuantes e por jogos de azar, também se tornam problemas quando passam a dominar nossas vidas e ditar o ritmo de tudo.

As causas para o aparecimento das compulsões são inúmeras e ainda têm sido vastamente estudadas. Estudos já apontam para fatores ligados ao desequilíbrio de neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina e para alterações em áreas cerebrais, como o córtex pré-frontal. Inegavelmente, também já sabemos da importância da história de vida de cada um e dos fatores psicológicos e ambientais para o desenvolvimento desses comportamentos.

O caminho mais seguro para a melhora das compulsões e de todos os aspectos negativos relacionados a elas, é a busca por uma ajuda qualificada. É somente por meio do entendimento do significado dos comportamentos compulsivos para cada um e do sofrimento associado a eles, que poderemos estabelecer a melhor forma de ajuda, podendo ela ser farmacológica, através do uso dos psicofármacos disponíveis, e/ou não farmacológica, através da psicoterapia. Nesse sentido, o tratamento tem como objetivo maior restabelecer o equilíbrio e controle sobre atividades que antes eram prazerosas e agora se tornaram aprisionadoras, devolvendo o verdadeiro sentido de liberdade à vida.

Matéria por:
Giovana Jorge Garcia
Psiquiatra | CRM/PR: 24337 | RQE: 17431

Acho que sou bipolar…

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Nas rodas de amigos, no trabalho, entre os familiares ou em consultórios de psiquiatria, essa dúvida em relação a própria bipolaridade ou a bipolaridade de pessoas próximas, é cada vez mais frequente.

  Muitas pessoas se queixam de mudanças frequentes no humor, irritabilidade, compras exageradas e outros descontroles emocionais e relacionam isso à presença da tão falada doença bipolar. Mas afinal, o que é um transtorno bipolar? E… o que não é?

  O Transtorno Afetivo Bipolar se constitui em problema grave de saúde mental no qual podem ocorrer episódios de mania, alternados ou não, com episódios de depressão. E o que é um episódio de mania? É um período distinto de tempo (dias, semanas ou meses), no qual ocorre de forma simultânea alguns sintomas como: humor muito irritado ou eufórico, maior agitação, menor necessidade de sono, mais energia, fala e pensamentos acelerados e maior envolvimento em atividades que dão prazer, como é o caso de compras exageradas e atividade sexual. Quadros de depressão também podem ocorrer alternadamente com os episódios de mania, nos quais o humor permanece entristecido a maior parte do tempo, há desânimo, choro fácil, falta de prazer nas atividades diárias da vida, dificuldade de concentração e memória, alterações do sono e apetite e até pensamentos de morte e de suicídio. É importante ressaltar que todos esses sintomas causam uma alteração do jeito habitual de funcionamento da pessoa, prejudicando as atividades de maneira geral e podendo ser facilmente observado por quem está a sua volta.

  Assim, mudanças repentinas de humor no nosso dia a dia, principalmente quando algo ruim e inesperado acontece, irritabilidade intensa, explosões de raiva, brigas e compras exageradas, isoladamente, não o transformam em uma pessoa com o transtorno bipolar. O reconhecimento dessa doença depende de uma avaliação psiquiátrica aprofundada para que se possa entender todas as questões psicológicas, biológicas e ambientais envolvidas e assim, identificar os sintomas que estão causando sofrimento. O Transtorno Afetivo Bipolar é uma condição psiquiátrica grave que necessita de tratamento o mais precoce possível, para que os sintomas sejam controlados e a vida siga seu curso da melhor maneira possível.

Matéria por:
FELIPE P. DE FIGUEIREDO
CRM/PR 31918 | RQE 17208 / 17215
GIOVANA JORGE GARCIA
CRM/PR: 24337 | RQE 17431 |