DELÍRIOS E ALUCINAÇÕES : Paciente com esquizofrenia altera pensamentos reais e fantasia

05-06-17

Um dos transtornos psiquiátricos mais graves, que atinge cerca de 1% da população e que, se não tratado, pode incapacitar a pessoa, é a esquizofrenia, uma doença crônica, caracterizada por uma alteração nos pensamentos, com delírios e alucinações. O conceito popular (e preconceituoso) de loucura é baseado na sintomatologia do paciente esquizofrênico.

“A pessoa começa a acreditar em coisas que não estão acontecendo. Por exemplo, achar que está sendo perseguido, que há pessoas o observando. Também podem acontecer alterações da percepção, por exemplo, ouvir vozes que ninguém mais escuta, ver vultos que ninguém está vendo. Pode acontecer também uma alteração do comportamento: a pessoa pode ficar mais agressiva, mais agitada. Ela pode ficar mais isolada, mais retraída, então ela muda o jeito que ela se relaciona e a maneira como, às vezes, percebe o mundo. O contato com a realidade é prejudicado”, explica a médica psiquiatra Giovana Garcia. Incurável e com causa ainda desconhecida, a esquizofrenia é tratável e, em cerca de dois terços dos casos, o uso contínuo de medicamentos é capaz de evitar crises agudas da doença. “Uma das hipóteses mais fortes é da alteração da dopamina e do glutamato, que são neurotransmissores do cérebro, mas são ainda hipóteses que precisam de comprovação científica mais clara.

E também  existem alguns estudos mostrando que o cérebro do esquizofrênico funciona de uma maneira diferente. Áreas que eram para ser mais ativadas são menos ativadas, o que significa que também existe um componente de imagem”, diz, citando que uma das relações já comprovadas pelas pesquisas é que o uso de drogas, principalmente essa droga, aumenta muito a chance de uma pessoa desenvolver esquizofrenia, porque a maconha atua em regiões cerebrais envolvidas na esquizofrenia. Assim como os demais transtornos psiquiátricos, o diagnóstico da esquizofrenia é clínico, através do relato do paciente e de familiares e da observação do médico. “Nossa primeira ação, ao receber um paciente após um primeiro surto é excluir o uso de substâncias que possam ter esse efeito colateral ou uma doença orgânica, como tumor cerebral. Para isso, até pode-se pedir um exame de imagem, para descartar essa hipótese. Mas, para diagnosticar a esquizofrenia, não existe outro método que não seja uma consulta com o especialista”, afirma Drª. Giovana.

A médica relata que o período típico de manifestação da doença é na juventude, no final da adolescência e início da vida adulta. “É uma fase muito transmutativa para as pessoas. E é por isso que a esquizofrenia fica tão incapacitante porque se a pessoa não consegue tratamento, ou se a doença é muito grave a ponto de o paciente não responder de uma maneira boa aos medicamentos, ela não estuda, ela não casa, ela não trabalha”, diz.

No tratamento da doença, ela destaca a necessidade de se aliar a abordagem medicamentosa com o uso de antipsicóticos à abordagem psicossocial. “O paciente precisa participar de grupos e haver uma psicoterapia para tentar ajudá-lo a entender a doença. Grupo de família, porque os pais e a família precisam entender. Às vezes, o paciente diz que está escutando uma morto falando com ele. O familiar não entende que aquilo não é inventado. O cérebro produz a voz mesmo! Assim, quanto mais está orientada mais pode ajudar o paciente”, ilustra.

Em alguns casos de maior risco, explica a psiquiatra, o internamento do paciente é necessário. “Internamos se o paciente está agressivo com ele mesmo ou com pessoas próximas; se ele tem um risco de suicídio ou homicídio; se ele não está conseguindo se cuidar sozinho (por exemplo, não consegue tomar banho) ou se alimentar. Se ele não consegue, nem a família, garantir o uso da medicação, às vezes precisamos interná- -lo para fazê-lo tomar o remédio. Um outro caso em que costumamos também hospitalizar é quando, às vezes, o quadro nem é tão grave, mas não existe suporte, não há quem responda pela pessoa”, diz. “Mas o ideal é que a internação pode ser breve. Não pode ser uma internação prolongada. É preciso controlar um pouco os sintomas para que o paciente consiga voltar para casa”, acrescenta.

Família tem que estar preparada e bem informada

A família do paciente tem papel fundamental no tratamento da esquizofrenia. E o primeiro passo é compreender a doença. “Porque quando os familiares não entendem, muitas vezes ficam argumentando e discutindo com o paciente. Mas quando o paciente, está com esse pensamento, com essas sensações, não adianta argumentar; é preciso tratar. Não adianta dizer que não há ninguém que o esteja perseguindo, que não está acontecendo nada. Orientar a família a reconhecer que, quando começa a aparecer o sintoma, o melhor é procurar ajuda a garantir a tomada da medicação é o que mais ajuda”, explica a Drª. Giovana Garcia.

“Quando o paciente está apresentando o sintoma, é preciso tentar entender o que está acontecendo e o que o paciente está sentindo e tentar já encaminhá-lo para um atendimento. Não precisa ficar tentando argumentar com o paciente porque ele não vai aceitar a argumentação”, reforça a médica, instruindo que, ao ouvir queixas de um esquizofrênico, o familiar pode perguntar o que ele está escutando, quem o está perseguindo, mostrar estar compreendendo para que ele se sinta confiante. “Isso aumenta a chance de você conseguir levá-lo para um tratamento”, diz.

Para os pacientes com comprometimento maior, a médica orienta a família a dar a eles o maior grau de independência possível, dentro dos limites de cada caso. “Que possa, por exemplo, aprender a lidar sozinho com dinheiro, a cuidar das coisas dele, ajudando em casa, participando de grupos como igreja, exercício físico, grupos de terapia. Por mais que, às vezes, o indivíduo não consiga trabalhar, casar e ter uma vida ativa, que ele possa ser, dentro das atribuições da vida dele, maximamente independente”, diz.

A médica finaliza dizendo que a doença atinge igualmente homens e mulheres e que pode ser causada por alterações desde o desenvolvimento cerebral, mas que só se manifestam no final da adolescência. “É um tema muito estudado, pois é crescente o número de evidências, o que tem permitido se tentar desenvolver novos tratamentos, por isso é importante o familiar saber que há um movimento da ciência para tentar avançar em relação à doença”.

Hoje, caso presencie uma pessoa em surto psicótico, o cidadão deve levá-la ao Caps – Centro de Atenção Psicossocial de sua cidade, ou, nos municípios onde não existir Caps, à unidade básica de saúde, pois os médicos da atenção primária estão aptos a avaliar os casos e fazer o correto encaminhamento.

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